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sexta-feira, 10 de outubro de 2025

SAIBA QUEM FOI ANDRÉ DA SILVEIRA, O FUNDADOR DE ANDRELÂNDIA

 

Retrato supositício de André da Silveira, o fundador de Andrelândia, de acordo com pesquisas de Marcos Paulo de Souza Miranda


Corria o ano  de 1749  quando André da Silveira dirigiu uma petição ao então Bispo de Mariana, Dom Manoel da Cruz, requerendo, em nome dos moradores da região denominada Turvo Grande e Pequeno, autorização para erguer, na localidade, uma Capela dedicada a Nossa Senhora do Porto, considerando que a população vinha aumentando e a distância até as igrejas mais próximas era grande, impedindo o acesso de muitos aos sacramentos religiosos.

A autorização foi concedida, a capela construída e, no ano de 1755, recebeu a benção oficial e passou a ser utilizada para a celebração de batismos, casamentos e cerimônias de encomendação de mortos.

Na parte frontal da capela existia um adro, cercado por muro de pedras, onde as pessoas mais simples da comunidade eram sepultadas. Os integrantes das classes sociais mais abastadas eram sepultados no interior da capela, que tinha assoalho de madeira e campas para os enterros.




Antiga Capela de Nossa Senhora do Porto do Turvo - atual Matriz de Andrelândia


Ao redor do pequeno templo logo se formou um povoado, com a construção de casas de comércio e de residência de pessoas que tinham propriedades rurais na região e  precisavam de alojamento para assistirem às missas periódicas,  daí surgindo o denominado Arraial do Turvo.

No ano de 1930 a antiga Cidade do Turvo (que havia alcançado tal status em 1868) recebeu a denominação de Andrelândia (de André + land - Terra de André), em homenagem ao responsável pela construção da capela que deu origem à povoação.

 Mas quem terá sido o fundador da cidade, André da Silveira ?

De acordo com nossas pesquisas, André da Silveira é natural da Freguesia de São Salvador da Vila de Horta, Ilha do Faial, Arquipélago dos Açores, Portugal,  onde nasceu por volta de 1705.

 

 


Igreja Matriz de São Salvador, Vila Horta, Ilha do Faial, Açores – local de batizado de André da Silveira

 

Com cerca de vinte anos de idade, ainda em solo açoriano, André se casou com sua conterrânea, Maria do Livramento, com quem teve descendência.

É de se crer que foi por volta do ano de 1735 que aportou em solo brasileiro, atraído pelas notícias do ouro e pela miragem fantástica da riqueza fácil que chegavam a Portugal e suas Ilhas, André da Silveira, acompanhado de sua mulher e duas filhas pequenas.

Ele descendia, presumivelmente, de família bem situada; era dono de certa cultura e sabia ler e escrever com desembaraço - privilégio de poucos à época.

O número de propriedades imóveis de André da Silveira, situadas nas cercanias do antigo Arraial do Turvo, adquiridas pelo apossamento primário, evidencia que ele  foi efetivamente um dos primeiros habitantes da região.

           Isto porque, de acordo com dados que coligimos após a análise de inúmeras cartas de  concessão de sesmaria na região, na segunda metade do século XVIII vários  sesmeiros se dirigiram ao Governo da Capitania de Minas Gerais requerendo o reconhecimento jurídico da propriedade de terras que haviam adquirido de André da Silveira.

         Em 15 de dezembro de 1755, por exemplo,  foi concedida a Dona Ana Maria de Medeiros, viúva de Gaspar da Costa Pacheco, uma carta de sesmaria de três léguas de terras nas vertentes do Rio Turvo Pequeno acima, junto ao Morro Caxambu, constando do título  concedido que o finado marido da concessionária havia comprado essas terras de “André da Silveira há uns dois anos”. Nos autos de inventário de Gaspar Costa Pacheco, falecido em 08 de abril de 1754, descobrimos que o imóvel situava-se nas cabeceiras do Rio Turvo Pequeno, foi vendido por 675 mil réis e confrontava com Antônio Correia de Lacerda, Francisco Gonçalves de Medeiros e Bernardo Gomes.

       Assim, a propriedade abrangia território dos atuais municípios de Bom Jardim de Minas e Arantina.

No dia 02 de dezembro de 1755 o português Bento Ribeiro Salgado, natural da Freguesia de Santa Maria de Silvares, Termo de Guimarães, Arcebispado de Braga, recebeu uma sesmaria localizada “ao pé do morro das Safiras”, arrebaldes do Arraial do Turvo. Na carta de concessão é mencionado que as terras de Bento “partiam ao sul com terras de Antônio do Valle Ribeiro, que comprara a André da Silveira”.

A propriedade ficava na região da atual Fazenda dos Pinheiros, em direção à Serra dos Dois Irmãos.

Em 07 de novembro de 1758 Manoel Luiz da Silva recebeu do Governador da Capitania carta de sesmaria em que lhe era concedida meia légua de terras, em quadra, no lugar denominado Bicas e Águas Belas. Consta do título de concessão que parte das terras haviam sido adquiridas por compra feita a André da Silveira. Essas terras dividiam com o ribeirão de Francisco Martins Coelho, que fazia barra no Aiuruoca, e com as estradas que seguem de Serranos para o Turvo e de Serranos para São João del Rei.

A propriedade ficava na região da atual Fazenda das Bicas.

Além de grande proprietário de terras, André da Silveira foi também senhor de vários escravos, mão de obra considerada essencial naqueles tempos, tanto para atividades de mineração, quanto de agropecuária.

Segundo dados extraídos de registros religiosos lançados em livros da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar de São João Del-Rei e de Nossa Senhora da Conceição de Aiuruoca, conseguimos identificar os seguintes escravos pertencentes a André da Silveira:

 

-          Maria Preta Angola, mãe de Theodósio, batizado em 24 de maio de 1739 na Capela de São Miguel de Cajurú.

-          Maria Preta Benguela, mãe de José, batizado em 22 de dezembro de 1746 na Capela de São Miguel do Cajurú.

-          Josefa Mina, mãe de José, batizado em 08 de maio de 1767 na Capela de Nossa Senhora do Porto de Turvo.

-          Francisco Angola e Maria Rebola, casados em 01 de julho de 1771 na Capela de Nossa Senhora do Porto do Turvo.

 

    Sabemos que, já na década de 1740, André da Silveira encontrava-se estabelecido com sua família e negros na Fazenda das Bicas, situada nas proximidades do Rio Aiuruoca, cuidando das criações, das lavouras e também do trabalho de mineração.

    Mesmo reduzida a extração aurífera, os homens daqueles tempos não abandonavam o sonho de fazer riqueza retirando do solo o cobiçado metal dourado, e alimentavam tal esperança sempre destinando alguns escravos ao trabalho nas minas. A nosso ver, o topônimo "Bicas" não teve outra origem senão em virtude dos bicames de madeira que outrora ali existiam, destinados a conduzir as águas utilizadas na lavagem do cascalho aurífero às margens do Rio Aiuruoca, no local até hoje conhecido como “Catas”.

    A fazenda das Bicas, ou "Sítio das Bicas", como  denominava o próprio André da Silveira a respeitável propriedade, que chegava a confinar com sesmarias de Diogo Garcia e José de Araújo Martins, próximas à Serra das Carrancas, compunha-se de "vários mattos virgens, capoeiras, campos ..." e deveria ser uma das mais movimentadas da época, pois estava situada às margens da velha estrada que seguia do vetusto Arraial dos Serranos para a Vila de São João del-Rei, sede da gigantesca Comarca do Rio das Mortes.

Como prova cabal de que André da Silveira não foi nenhum "bandeirante", nenhum aventureiro cego pela ambição, como alguns já chegaram a afirmar, a declaração de dívida por ele escrita de próprio punho no ano de 1755 em favor do Capitão João de Souza Lisboa, arrematador do contrato dos dízimos na Capitania de Minas Gerais, vem confirmar que suas atividades rentáveis caracterizavam-no muito mais como um fazendeiro, um homem ligado à terra.

Os dízimos eram a décima parte do valor dos frutos da terra, incluindo as madeiras, produtos das olarias e criação de rebanhos. A sua cobrança era feita através da arrematação de contrato pelo período de um triênio, ficando o contratado responsável pela apresentação do rendimento à Junta da Real Fazenda

Originariamente o dízimo era devido à Igreja, mas a Coroa Portuguesa, com a promessa de subsidiar aquela, chamou a si a arrecadação do tributo, nunca cumprindo satisfatoriamente com o compromisso.

     Abaixo, transcrevemos o mencionado documento que foi escrito pelo próprio André da Silveira, em 1755, na Fazenda das Bicas:

 

"Devo que pagarey ao Captam João de Souza Lisboa a Contia de trinta oytavas de ouro procedidas dos meos dizimos do trienio que principiou em 7 de agosto de 1753 e há de findar em outro tal dia de 1756. A coal coantia pagarey a ele dito ou a quem este me mostrar em dois pagmtos iguais nos dois agostos do contrato e por ser verdade lhe paçey este docmto pro mim asinado pª o que obrigo minha peçoa o bem especial mte a mesma Roça Juruoca no Sítio das Bicas ao pé do turbu grande hoje 1 de dezro de 1755. André da Silveira".

 

Assinatura de André da Silveira

    Uma oitava equivalia a 3,585 g de ouro, o que nos leva a concluir que a dívida de André era de 107,55 gramas de ouro  e que a sua produção agropecuária no período de um triênio equivalia a pouco mais de um quilo do metal dourado.  Entretanto, pelos evidentes vestígios (canais, catas e guapiaras) existentes no local de sua antiga fazenda, cremos que André da Silveira também se dedicava à mineração, sobre a qual incidiam os quintos e não os dízimos, o que pode indicar uma renda bastante superior.

    Até o ano de 1771 temos provas documentais de que André da Silveira permaneceu na região do Turvo, residindo no Congonhal. Em 1772 André da Silveira requer ao Juiz de Órfãos da Vila de São João del-Rei que fosse dispensado do encargo de tutor dos filhos menores do seu finado genro Manoel Francisco Braga, dizendo-se “homem velho e doente”, além de morar distante da Vila de São João del-Rei.

    Por volta de 1775 a morte de sua mulher, Dona Maria do Livramento, veio a pesar fortemente sobre o velho fazendeiro que, já avançado em anos e desgastado pelas rudes surpresas da vida, resolveu deixar a terra que mais tarde levaria seu nome, partindo para o vizinho arraial de São Bom Jesus do Livramento, hoje cidade de Liberdade, onde passou os últimos anos de sua vida, na companhia de seus netos.

    Aos vinte e sete de dezembro do ano de 1782, confortado por todos os sacramentos da Igreja Católica, faleceu André da Silveira. Seu corpo foi solenemente encomendado pelo Pe. Manoel Lourenço de Oliveira e sepultado sob o Arco Cruzeiro, no interior da Capela do milagroso São Bom Jesus.


Foto da antiga Capela de São Bom Jesus do Livramento, onde foi sepultado o fundador André da Silveira

 

    Por ter sido um dos pioneiros povoadores de nosso território e por emprestar o seu nome à nossa cidade, André da Silveira merece todo o nosso respeito e veneração.

    Conhecer a biografia do fundador de Andrelândia é um dever de todos aqueles que amam a Terra de André.




quinta-feira, 17 de abril de 2025

JOÃO NARCISO, UM ANDRELANDENSE BENFEITOR DA CIDADE DE CONGONHAS – MG

 

Por: Marcos Paulo de Souza Miranda

 

Na madrugada de 25 de junho de 1913, às quatro horas, vinha à luz, na antiga Cidade do Turvo, que receberia a denominação de Andrelândia em 1930, o menino João Narciso, filho de Pedro Luis de Almeida e Josina Alves de Sá. Descendente de antigos troncos genealógicos andrelandenses, o pequeno João Narciso era neto paterno de José de Almeida Moraes e de Cândida Maria de Jesus. Neto materno de Antônio Narciso Ferreira Leite de Maria Ferreira de Sá.

João Narciso (1913-1983)

Foi batizado na Matriz de Andrelândia em 12 de outubro de 1913 pelo padre Carlos Muller, tendo como patrinhos João Narciso de Sá e Lucinda Luiza de Jesus.



RegistrRRegistro de batizado de João Narciso

Nascido em lar religioso, desde a juventude demonstrou extrema devoção a Nossa Senhora Aparecida, que tomou como sua guardiã.


Cursou o primeiro grau no Colégio Santo Antônio, em São João del-Rei, um dos melhores educandários da região à época. Trabalhou como telegrafista da Rede Mineira de Viação -RMV na cidade de Tiradentes.

Na sequência, foi para Belo Horizonte, onde estudou no Colégio Anchieta, trabalhou como bancário e atuou como  juiz de futebol amador.

No ano de 1945 casou-se com Maria da Glória Pinto, natural de Barbacena, nascendo, do enlace, as filhas Geysa Narciso Maximiano Barcelos e Gelta Pinto Narciso.

Homem empreendedor, culto e de visão, na década de 1950 iniciou suas atividades de comercialização e distribuição de combustíveis no município de Congonhas por ocasião da construção da rodovia denominada BR 3 (atual BR 040), abastecendo veículos, inicialmente com o uso de um caminhão que percorria a rodovia, e, na sequência, por meio de um posto de combustíveis que implantou na localidade de Joaquim Murtinho, às margens da referida rodovia.

De espírito desprendido e caridoso,  no ano de 1953 doou um expressivo lote de terras para que fosse construída, na localidade de Joaquim Murtinho, uma escola pública que pudesse atender todas as crianças e jovens da região, evitando a antiga necessidade de deslocamento para Congonhas ou Lafaiete para tanto.







Referida escola hoje leva seu nome e é o principal equipamento de ensino do Distrito de Joaquim Murtinho, em Congonhas, atendendo  estudantes de diversas localidades, como Joaquim Murtinho, Cidade Jardim, Vila Marques, Vila Cardoso, São Luiz, Alto Maranhão e Jardim Profeta. Além da Educação Infantil, conta com turmas de 1° ao 9º ano do Ensino Fundamental e oficinas específicas de Jiu-Jitsu, futsal, handball, português e matemática.

Uma das ruas de Joaquim Murtinho também leva o nome de João Narciso, o grande benfeitor da localidade.

O benemérito João Narciso, filho de Andrelândia, faleceu em Belo Horizonte em 29 de maio de 1983, deixando seu nome registrado nas páginas da história da tricentenária Congonhas do Campo.

 

Fontes e referências:

Cartório de Registro Civil de Andrelândia – Livro 12-A, Assento 68, p. 25/25v.

André Candreva – Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas

Biblioteca da Escola Municipal João Narciso. Entrevista com: Margarida Leão Nascimento

 

domingo, 6 de abril de 2025

DR. MARCOS RIBEIRO DE AZEVEDO: PIONEIRO NA DEFESA DO PATRIMÔNIO CULTURAL EM ANDRELÂNDIA


Por: Marcos Paulo de Souza Miranda


Nos dias de hoje podemos dizer que, em Andrelândia, há uma razoável consciência coletiva sobre a necessidade de preservação dos bens integrantes do patrimônio cultural existentes no território do município, como casarões antigos (urbanos e rurais), igrejas e capelas, construções da época da instalação da ferrovia, grutas e sítios arqueológicos,  entre outros.

Andrelândia atualmente é muito conhecida e valorizada fora de suas fronteiras exatamente em razão da beleza de seu traçado urbano e da existência de um patrimônio cultural bem preservado e difundido, o que acaba por despertar uma ponta de orgulho nos moradores e amigos da cidade, que ficam envaidecidos ao perceberem que a “Terra de André” vem se firmando como novo destino turístico de Minas Gerais

Mas é preciso ressaltar que esse nível de consciência foi alcançado apenas em tempos mais recentes, e decorre de muito trabalho de pessoas que, há longas décadas, vêm lutando para que a comunidade andrelandense perceba o valor de suas riquezas culturais, naturais e turísticas e passe a defendê-las.

 


Dr. Marcos Azevedo junto às pinturas rupestres da Serra de Santo Antônio 

aos 87 anos de idade


Entre essas pessoas, ganha especial destaque o Dr. Marcos Ribeiro de Azevedo, conhecido na cidade como “Dr. Marcos”, homem culto e de visão, que, durante várias décadas, sempre buscou conhecer, proteger e difundir as riquezas andrelandenses e formar novos atores e lideranças capazes de dar continuidade a essa tarefa.


 


      Dr. Marcos (à direita), com a família, na Serra de Santo Antônio, na década de 1960


Simples e gentil no trato, bem-humorado e com enorme energia, Dr. Marcos conhecia boa parte do território andrelandense, por onde fazia caminhadas pelas serras e gostava de visitar velhas fazendas e locais de potencial histórico e arqueológico, que sempre procurava registrar em fotografias. 

Era leitor contumaz de obras históricas sobre Minas Gerais e, generoso, sempre presenteava seus amigos e pupilos com livros e artigos a respeito do assunto, difundindo o conhecimento e induzindo a iniciativa de novas pesquisas e descobertas.


Dr. Marcos de Azevedo (à esquerda) em piquenique  na pedra do Serrote

 na década de 1950


Os integrantes do Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande (NPA), responsáveis pela criação do Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, por exemplo, foram quase todos amigos e pupilos do Dr. Marcos de Azevedo. 

Aliás, na década de 1990, Dr. Marcos foi um grande entusiasta e incentivador da criação e implantação do Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, onde sempre estava presente, mesmo quando já se aproximava dos noventa anos de idade.

Nosso homenageado carregava no sangue o amor pela história e as coisas antigas, pois era filho do Dr. Álvaro de Azevedo (esse, por sua vez, filho do Cel. José Bonifácio de Azevedo) e dona Maria da Glória Ribeiro Azevedo. Dr. Álvaro de Azevedo foi pioneiro na historiografia andrelandense, sendo autor dos livros “Andrelândia – Aspectos de sua vida política e social” e “Reminiscências”, obras essenciais para quem quer conhecer os antigos fatos e personagens da nossa cidade.

Nascido em Quatis-RJ em 11 de maio de 1926, Dr. Marcos Azevedo fez o curso técnico de Agronomia em Viçosa, cursou Direito na Universidade Federal Fluminense e Filosofia na Associação Barra-mansense de Ensino, em Barra Mansa - RJ.

Em Andrelândia, onde possuía casa e permanecia longas temporadas com frequência, sempre participava e apoiava as ações e movimentos relacionados à cultura, ao meio ambiente e ao turismo. Faleceu no Rio de Janeiro em 15 de abril de 2019, com quase 93 anos de idade.

Enfim, Andrelândia deve ao Dr. Marcos de Azevedo, em boa parte, o status que hoje ostenta de cidade ligada à preservação do patrimônio cultural, razão pela qual a ele rendemos as nossas mais sinceras homenagens e o  formal registro de agradecimento pelo que fez, voluntária e desinteressadamente, em benefício de todos !

Obrigado por tudo, caro amigo.


sábado, 9 de março de 2024

NOVAS DESCOBERTAS SOBRE AS PINTURAS RUPESTRES DA SERRA DE SANTO ANTÔNIO: IDENTIFICADAS AS MAIS ANTIGAS REPRESENTAÇÕES DE SERES HUMANOS NO TERRITÓRIO ANDRELANDENSE

Por Marcos Paulo de Souza Miranda

As pinturas rupestres da Serra de Santo Antônio, em Andrelândia,  começaram a ser objeto de estudos  há quatro décadas, quando arqueólogos da Universidade Federal de Minas Gerais fizeram os primeiros trabalhos de cópia e classificação das representações, cujos resultados foram publicados em artigo científico.


        

Reprodução da parte central do painel rupestre da Serra de Santo Antônio - UFMG


Recentemente o professor André Prous publicou novo artigo sobre as pinturas, revendo algumas de suas antigas conclusões em razão do avanço das pesquisas arqueológicas em todo o país.

Um dos destaques diz respeito à classificação das pinturas que foram enquadradas na chamada Tradição São Francisco, presente notadamente em sítios arqueológicos situados no norte de Minas Gerais.

No artigo publicado no corrente ano de 2024, Prous justifica que na década de 1980 "ainda conhecíamos pouco a variedade de arte rupestre de Minas Gerais e privilegiávamos a oposição: dominância de animais (sobretudo cervídeos: Tradição Planalto) / predominância de figuras geométricas frequentemente bicrômicas (Tradição São Francisco). Também focalizamos na Toca do Índio a existência de bicromia e a presença de uma possível representação de um propulsor, características da Tradição São Francisco no vale do Rio Peruaçu. Consideramos também a presença de sauros que aparecia no meio de figuras São Francisco em alguns (poucos) sítios do Peruaçu. Hoje em dia descartamos esta identificação. Inclusive, os sauros, no estado da Bahia, são particularmente característicos do que M. Beltrão denominou Tradição Cosmológica e não parecem mais diagnósticos da Tradição São Francisco". 

Logo, cientificamente reconheceu-se que as pinturas rupestres da Serra de Santo Antônio não se enquadram exatamente em qualquer das tradições rupestres classificadas no país, o que abre a possibilidade da existência de um tradição própria na região do Alto Rio Grande, fato que temos defendido há alguns anos.

Sítios rupestres identificados pelo NPA em outros pontos do município de Andrelândia e nas vizinhas cidades de Carrancas, Serranos e Baependi indicam essa possibilidade.

Outra novidade digna de nota foram as recentes descobertas que fizemos no painel rupestre da Serra de Santo Antônio, onde identificamos a presença de duas representações de antropomorfos (figuras representando seres humanos), o que até então não havia sido objeto de registro pelos pesquisadores.

A identificação de antropomorfos traz um acréscimo importante ao repertório temático existente no painel de Andrelândia e o diferencia, ainda mais, da tradição São Francisco, onde a representação de seres humanos não é comum.

Ademais, seriam as representações iconográficas mais antigas de seres humanos no território andrelandense.

Vejamos abaixo as figuras identificadas.


Recorte da reprodução do painel rupestre realizada pela UFMG

Verifica-se que as pinturas antropomorfas são próximas e podem fazer parte de um mesmo conjunto de representação, talvez relacionado a alguma cena ritual.


ANTROPOMORFO 01

O antropomorfo 01 está situado a cerca de 1,5 m do solo, na porção médio-esquerda do painel e constitui uma figura vermelha representada de forma esquematizada, com braços abertos em ângulo reto (3 dedos esquematizados na mão à direita), cabeça redonda colada sobre os braços, tronco linear, pernas lineares abertas em forma de "V" invertido e pênis ereto.

A figura tem nitidez mediana e pode ser observada, com maior detalhamento, quando utilizados programa de tratamento de imagens, como abaixo demonstrado.

Imagem sem tratamento

Foto: Marcos Paulo de Souza Miranda - 2022


Imagem com  tratamento em adSTretch - por Gilberto Azevedo

Imagem com  tratamento em adSTretch - por Gilberto Azevedo


                                 ANTROPOMORFO 02

O antropomorfo  02, por sua vez,  está situado a cerca de 0,5 m do solo, também na porção médio-esquerda do painel e constitui uma figura vermelha, de corpo mais cheio que o antropomorfo 01, braços abertos ligeiramente inclinados para baixo,  pernas bastante abertas e um aparente falo, sobreposto por uma linha amarela.

A figura tem baixa nitidez e pode ser observada, com maior detalhamento, quando utilizados programa de tratamento de imagens, como abaixo demonstrado.

Visualização da imagem sem tratamento
Foto: Marcos Paulo de Souza Miranda -2024



Imagem com  tratamento em adSTretch - por Gilberto Azevedo

Imagem com  tratamento em adSTretch - por Gilberto Azevedo


Enfim, passadas quatro décadas dos primeiros estudos, o painel rupestre situado no Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio parece ainda guardar muitos segredos que, pouco a pouco, certamente serão revelados pelas pesquisas que ainda estão por vir.







domingo, 18 de fevereiro de 2024

CONHEÇA O PARQUE ARQUEOLÓGICO DA SERRA DE SANTO ANTÔNIO, EM ANDRELÂNDIA-MG

No Parque Arqueológico na Serra de Santo Antônio, em Andrelândia-MG, está o mais espetacular conjunto de pinturas rupestres conhecido no Sul de Minas Gerais.

São mais de 500 figuras geométricas (círculos concêntricos, triângulos, estrelas, bastonetes etc.) e zoomorfas (animais como lagartos, tartarugas etc.), pintadas nas cores vermelha, amarela e branca, dispostas ao longo de cerca de 50 metros de um enorme paredão rochoso, em um local abrigado da chuva e junto a uma paisagem deslumbrante.


Os vestígios arqueológicos encontrados no Parque foram datados por arqueólogos, pelo método Carbono 14, em 3.500 anos de idade.




As pinturas rupestres da Serra de Santo Antônio constituem o mais importante patrimônio cultural (e estamos considerando aqui os patrimônios artístico, histórico e pré-histórico) de uma vasta área de Minas Gerais. E a Natureza, como que ciente do seu valor, cuidou de conservá-las em estado razoável por dezenas de séculos.



No Parque, além do belo sítio arqueológico, existem trilhas na mata, grutas, mirantes, nascentes e várias outras atrações de tirar o fôlego.

Agende sua visita.

Conheça um dos principais destinos do arqueoturismo no Brasil.



SERVIÇO

Site: www.npa.org.br

Instagram: @parquearqueologicossa

Funcionamento: Todos os dias, das 08.00h às 16.00h, com agendamento prévio

Ingresso – R$ 15,00 por pessoa

Observação: Acompanhamento obrigatório por monitor credenciado – valor a combinar


Agência de Turismo Parceira:

 


Telefone/Whatsapp: (35) 99222-2285

Instagram: deltaturismomg

Monitora: Rejane

 

 







sábado, 12 de setembro de 2020

REVELAÇÕES SIMBÓLICAS SOBRE A MATRIZ DE ANDRELÂNDIA - PARTE IV - O SOLSTÍCIO

Em  1752, quando começaram as obras da Matriz de Andrelândia, o atual território urbano da cidade era apenas um campo ermo, circundado por fazendas e pontos distantes de extração de ouro, sobretudo às margens dos Rios Aiuruoca e Grande.

Matriz de Andrelândia

Logo, a igreja poderia ter sido construída em qualquer ponto e direção pois nada condicionava o seu posicionamento geográfico  naquele momento...

Contudo, os antigos Mestres Pedreiros responsáveis pela edificação não agiram ao acaso, pois queriam fazer do templo uma mensagem para aqueles que ainda estavam por chegar, valendo-se de seus conhecimentos e simbolismos multimilenares, herdados de antigas associações que velam pelo bem do planeta de forma discreta e silenciosa ao longo dos milênios, objetivando o lapidar da pedra bruta.

Cuidaram os antigos pedreiros livres de colocar na fachada da Igreja um óculo central, a única abertura frontal não utilitária (a exemplo da porta e janelas) existente no frontispício. E não foi sem razão...

Trata-se de óculo circular, cujo significado simbólico é de extrema profundidade e relevância.

Óculo dentado da Matriz

No seu interior (que poderia ser liso e sem detalhes) existem dentes que se assemelham aos de uma engrenagem de giro contínuo  ou às escamas de uma serpente que engole o próprio rabo, o famoso ouroboros, que é um símbolo de ciclos que se repetem em permanente  movimento  e representa o eterno retorno.

No centro do ouroboros, segundo os antigos ensinamentos, atravessa a luz do sol em ocasiões especialmente relevantes.


              O símbolo do Ouroboros, por onde atravessa a luz do sol

Por isso, além do envoltório em forma de escamas de cobra, o óculo possui a parte central vedada por vidro translúcido, a única abertura intencional (não utilitária à passagem humana) destinada à iluminação da Matriz em sua fachada.

Como já dito, tal elemento arquitetônico seria mero detalhe ou curiosidade não fosse o seu especial e alto significado simbólico.

Fazendo uso de modernos softwares de cálculos de geoposicionamento e orientação solar, descobrimos que a igreja Matriz de Andrelândia teve o seu eixo central (a partir do circumponto que mencionamos nos posts anteriores e que significa o sol e o próprio Cristo) orientado para determinada posição geográfica em dia específico do ano.

De acordo com as precisas simulações matemáticas feitas em computador, no dia 21 de junho de cada ano o sol, em seu nascedouro, transpõe o óculo central da igreja e direciona seus luminosos raios em direção ao altar-mor, onde estão o Sacrário com o Santíssimo e a padroeira Nossa Senhora do Porto. Em tal data, não por acaso, ocorre o solstício de inverno.


Demonstração da incidência em linha reta e de forma direta dos raios dos sol sobre o óculo da Matriz durante o seu nascimento no Solstício de Inverno

O solstício (do latim sol + sistere = não se mexe) refere-se ao momento em que o astro solar atinge maior declinação em latitude e aparenta estar parado. Em junho, representa a noite mais longa do período solar.

 

Representação da incidência direta dos raios do sol na Igreja Matriz no solstício de Inverno (linha vermelha à direita)

Por isso, segundo os antigos ensinamentos trata-se do momento de transição do mundo das longas sombras (o mal) para o surgimento da luz (o bem).

        A divina luz do sol passando pelo óculo central em direção ao interior da Matriz
 

Logo,  a Matriz de Andrelândia foi planejada para ser um local de mudança, de transição das sombras para a luz, sendo que esta última é representada pelo próprio Cristo, luz do mundo e sal da terra.


Detalhamento da incidência do sol na Matriz de Andrelândia durante o ano
 
Na antiguidade, as iniciações ritualísticas e religiosas eram feitas sempre no solstício de inverno, porque sendo o último dia de maior noite, significava a marca do início do ciclo de dias de luz cada vez maiores; significava ainda a saída do mundo dos mortos (a noite, a escuridão) e a entrada no mundo dos vivos (o dia, a luz).
 
Em razão de tudo isso a Matriz de Andrelândia, dedicada à milagrosa Nossa Senhora do Porto, não se resume a mera edificação antiga. 
 
Trata-se de templo  construído com base em valores áureos e simbologia singular.
 
Aqueles que nele ingressarem, se estiverem preparados, receberão as abençoadas  luzes  necessárias ao aperfeiçoamento íntimo e à continuidade da vida eterna.
 
Vida longa aos filhos da abençoada Terra de André ! 

Postagens anteriores sobre o tema:
 
http://terradeandre.blogspot.com/2020/08/simbolos-ocultos-na-igreja-matriz-de.html
 
http://terradeandre.blogspot.com/2020/09/revelacoes-simbolicas-sobre-matriz-de.html#comment-form



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Quem quiser saber mais sobre a antiga história de Andrelândia,  sugerimos adquirir o livro: "Andrelândia - 3.500 anos de História". Mande whatsapp para a loja Villa Bella Artesanatos: 35 - 99195-5846