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domingo, 26 de março de 2017

SR. PAULO DOMINGOS DE CARVALHO – PATRIMÔNIO VIVO DE ANDRELÂNDIA


A história de Andrelândia não pode ser escrita somente se falando de personagens da considerada “alta sociedade”, como coronéis, barões e viscondes.
Muitas outras pessoas, de origem simples, contribuíram e contribuem de maneira importante para que a história da cidade vá se formando com as características marcantes  do seu povo e que remontam aos primeiros tempos do “Arraial do Turvo”, como a honradez, a religiosidade, o compromisso social e a solidariedade.
Com noventa anos de idade, o Sr. Paulo Domingos de Carvalho, residente no Bairro São Dimas, onde é um legítimo líder comunitário, pode ser considerado como um desses personagens ilustres de Andrelândia.






Filho de José Domingos Alves e de Maria Cristina de Carvalho, o Sr. Paulo nasceu na Fazenda das Pedras, uma das mais antigas do município, em  12 de janeiro de 1927. Lá ele passou a sua infância e juventude e ainda se recorda do local onde ficava situado o “tronco dos escravos” e a senzala, uma casa comprida que “ficava para baixo da cozinha da casa grande”, que era de propriedade de Antônio Inácio Alves e de Mariana Vitória, a “Sá Marianinha”.
Na época “pobre não estudava”, mas o “estudo do berço” era valioso, nos afirmou o Sr. Paulo, que gentilmente nos recebeu para uma entrevista em sua casa. 
Na época também não existiam médicos e as doenças eram curadas com as plantas do mato.  Ele se lembra do isopo (para estômago), hortelã do mato (lombrigueiro), erva terrestre (para tosse), funcho (dor de barriga), marcela (estômago e barriga), barbatimão (banho para feridas), barbaço (estômago), puxa-puxa (usado com azeite para puxar inflamações), jarrinha (banho), língua de tucano (garganta), pé de perdiz (sífilis), poejo do campo (gripe e peito), erva de lagarto (banho) e erva cidreira (cólica).
Casado aos 26 anos com Dona  Maria de Lourdes, Sr. Paulo teve 10 filhos, 16 netos e 14 bisnetos. Foi administrador da Fazenda Roseta, do Sr. José Maria Meireles, por onze anos.
Após mudar-se para a cidade, passou a se dedicar com grande afinco às ações sociais e religiosas da Paróquia. Foi membro da Liga Católica, da Legião de Maria, da Irmandade de São Vicente de Paulo e da Irmandade do Santíssimo Sacramento.  Espírito cristão, sempre marcou presença nos velórios e enterros da cidade.
Com sua opa vermelha sempre bem cuidada, lembro-me do Sr. Paulo como responsável por colocar ordem na evolução das procissões nas décadas de 1980 e 1990, tarefa na qual contava com o apoio do Srs. Aracy, Arthur Monteiro e Camurça. As paradas e partidas dos cortejos eram sincronizadas para que as filas não “arrebentassem”.
Sr. Paulo foi também o fogueteiro oficial da Paróquia por mais de quarenta anos, manejando com precisão os rojões e os tradicionais “foguetes de vara”. Ele se orgulha de dizer que nunca ocorreu um único acidente durante as quatro décadas que alegrou as festas e cerimônias andrelandenses.

Sr. Paulo (à direita) e familiares na reinauguração da Igreja do Rosário

Leiloeiro oficial das festas de São Sebastião, São Benedito e da Padroeira, o Sr. Paulo foi ainda o responsável - durante décadas - por colher os ramos de aricanga utilizados tradicionalmente no “Domingo de Ramos”. Inicialmente os ramos eram buscados na fazenda do Sr. João Costa, para os lados da Usina; depois passaram a buscar no Cafundão, na fazenda do Sr. Aquiles, no Morro Grande (perto da fazenda dos Pinheiros), na Serra do Rio Grande e na fazenda Olaria. Ele conta que antigamente eram arrancados pés inteiros de aricanga para que fossem fincados em volta da Igreja Matriz na véspera da Semana Santa.
Homem simples e trabalhador, a força de vontade do Sr. Paulo Domingos pode ser confirmada pela sua formatura e alfabetização no “Mobral” de Andrelândia, quando ele contava com quase 60 anos de idade. O curso foi feito no Colégio das Irmãs e o Sr. Paulo foi o responsável pela leitura na missa de formatura, celebrada pelo Padre Jaime na Matriz de Nossa Senhora do Porto.
O momento histórico foi registrado em fotografia, que fica exibida em um quadro com moldura caprichada afixado na sala da residência do nosso ilustre personagem.





Vida longa ao Sr. Paulo Domingos de Carvalho, filho ilustre da Terra de André !

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OBS: 15/01/2019 - meu amigo, Sr. Paulo, parte para outro plano. Siga em paz, caro irmão. Obrigado por tudo. Estaremos juntos novamente. DEUS sabe o que faz.

sábado, 18 de março de 2017

FIGURAS FOLCLÓRICAS DE ANDRELÂNDIA

Não só de Coroneis, Barões e Viscondes  é composta a história de Andrelândia.
Pelas ruas da cidade andaram e andam pessoas simples, engraçadas, figuras populares típicas do interior, que interagem com a população e tornam a vida mais leve e gostosa de viver.
A todas essas figuras que fazem ou fizeram parte da história da Terra de André, soldados quase anônimos da luta do dia a dia,  a nossa sincera homenagem.
Obrigado por existirem !

Pedimos àqueles que tiverem fotografias de outros personagens andrelandenses (João da Gata, Gaiteiro, Maria Piau, Carcula, Priminho etc) que compartilhem no blog.


Zé João

Boi

Cirilo

Darci da Periquita

Baianinho

Juca




TANCREDO NEVES EM ANDRELÂNDIA. O CASO DO BARBEIRO.

Entre os homens públicos mais reconhecidos no cenário político nacional encontra-se o Presidente da República, Dr. Tancredo de Almeida Neves, mineiro de São João del-Rei,  a sonhada capital dos Inconfidentes, onde nasceu em 04 de março de 1910 e foi batizado na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em 18 de agosto do mesmo ano, pelo Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho.

Tancredo, residente na vizinha São João del-Rei, esteve por diversas vezes em Andrelândia, onde contava com significativo apoio político de lideranças locais e advogava para alguns amigos.

Tancredo Neves ao lado do Padre Jaime, em Andrelândia, durante a inauguração do prédio do Correio

E uma história inusitada aconteceu em nossa cidade envolvendo o famoso Presidente.
Vejamo-la:
Na década de  1930, mais precisamente entre 1932-1934, Tancredo Neves  foi Promotor de Justiça em São João del-Rei, onde um homem chamado Jesus matou, a facadas, uma mulher chamada Madalena, esviscerando-a.
Tancredo pediu 22 anos de cadeia para Jesus, o júri deu 18. O réu foi para a cadeia e  Tancredo esqueceu o fato.
Nove anos depois, enquanto advogado, Tancredo vai a Andrelândia para despachar um processo judicial.
De barba por fazer, entrou numa modesta barbearia situada próxima ao cemitério velho, sentou-se e, cansado, fechou os olhos, aguardando calmamente o barbear. 
O barbeiro aproximou-se, pegou a navalha,  afiou-a com esmero e começou a tirar-lhe a barba, puxando conversa: – O senhor é o Dr. Tancredo Neves, né? Tancredo abre os olhos, reconhece Jesus, o assassino de São João del Rei. 

Espia pelo canto do olho, a barbearia vazia, a rua vazia, não chegava ninguém, não passava ninguém, o suor minava abundante na protuberante careca e Jesus com a navalha enorme na mão pesada correndo garganta abaixo, sobe-desce, sobe-desce...



Jesus não disse mais nada e aguardou taciturno a resposta. 

Tancredo só teve voz para dizer: 
– Sou, sim. 
– Pois é, Dr. Tancredo, a vida. 
– Pois é, Jesus, a vida.
– Cumpri nove anos dos 18, estou aqui, o senhor aí, o senhor com sua barba, eu com minha navalha. Só queria lhe dizer uma coisa, Dr. Tancredo...

Tancredo suava frio, Jesus corria a navalha pelo pescoço.

 – Que coisa bonita é um júri, hein, Dr. Tancredo? Que coisa mais bonita, que discursos bonitos que o senhor e o outro doutor fizeram antes de me mandarem para a cadeia !
Terminado o trabalho, Jesus guardou a navalha vagarosamente, olhando para o pescoço de seu antigo algoz.
Suando em bicas e completamente trêmulo, o católico Tancredo deu a maior nota que tinha para o barbeiro e ao deixar o aposento, suspirou profundamente  dizendo em tom de invocação:  
- Meu Jesus !,  ao  que retorquiu com voz gutural o xará do Mestre da Galileia: -  Pois não, Doutor !
Tancredo berrou apavorado: - É o outro !
E saiu em desabalada carreira rumo ao hotel de Andrelândia, onde precisou trocar a calça.

sábado, 11 de março de 2017

PRAÇA GABRIEL RIBEIRO SALGADO E O MARCO DO CENTENÁRIO

A atual Praça Gabriel Ribeiro Salgado, situada entre a ponte sobre o Rio Turvo e a linha férrea, era uma planície alagadiça até por volta de 1927, quando toda a área foi aterrada para a construção da primeira ponte de concreto, que ficava bastante elevada se comparada com a antiga,  de madeira e que era sempre carregada pelas enchentes.



A área da atual Praça Gabriel Ribeiro Salgado (local do Shopping Arco Iris) totalmente inundada (aproximadamente 1912)


Construção da ponte de concreto, ainda sem o aterro da Praça (1927). Ao fundo a Igreja do Rosário.


A Praça antes da urbanização - década de 1950

Na década de 1960, durante a gestão do Prefeito José Fernando de Azevedo Rezende, a área foi devidamente urbanizada, com a construção das estruturas da Praça.
Em  22 de outubro de 1966 foi inaugurado o Marco do Centenário, em comemoração aos 100 anos de autonomia administrativa de Andrelândia, que há um século havia se desmembrado de Aiuruoca.
Às 09:00h foi celebrada missa campal pelo Bispo Diocesano Dom Delfino Ribeiro Guedes, com grande presença do povo andrelandense. Às 14:00h foi inaugurada a Praça.

Missa Campal












A Praça na década de 1960. Ao centro o Marco do Centenário ou "Pirulito"

O Marco do Centenário, conhecido como "Pirulito", revestido em mármore, ostentava um charmoso relógio iluminado em seu topo (não há muito retirado do local e ainda não devolvido), bem como azulejos representando o Brasão da Cidade, a antiga casa de Câmara e Cadeia e a primitiva Capela de Nossa Senhora do Porto.


Trata-se do mais importante e representativo monumento cívico de Andrelândia.
Seria desejável a revitalização do obelisco, com a recolocação do antigo relógio em funcionamento.
É preciso  resgatar a história de nossa cidade e preservar o que foi construído pelas gerações que nos antecederam.


Vista do Marco do Centenário, com o destaque para o vazio do relógio retirado recentemente



Representação do antigo prédio da Câmara Municipal

Imagem da antiga Capela de Nossa Senhora do Porto





terça-feira, 7 de março de 2017

QUEM SERÁ A MISS ANDRELÂNDIA ?

Garimpando a história de  nossa cidade, nos deparamos com a fotografia abaixo, que retrata a coroação de uma "Miss Andrelândia", aparentemente na década de 1950.
Infelizmente não conseguimos identificar quem teria sido a nobre representante da beleza andrelandense naquela época.
Quem será ?
Se você tiver alguma informação, gentileza compartilhar neste blog.
Vamos a resgatar mais essa história da Terra de André !


OBS: Obtivemos informação, ainda a ser confirmada, de que a Miss seria a Srta. Mirtes Salgado Lintz e a Srta. à esquerda, de branco, Dircéia Alexandre.


quarta-feira, 1 de março de 2017

O ANTIGO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA DE ANDRELÂNDIA

Na segunda metade do século XIX Andrelândia já contava com  um bom sistema público de abastecimento de água.
Existiam várias "Torneiras Públicas" lavradas em pedra, um Chafariz de metal  e algumas poucas casas que contavam com tanques (fabricados  com lajes de pedra unidos por grampos de metal e óleo de baleia) situados em seus quintais.
Havia duas nascentes principais: a da Serrinha (responsável pelo abastecimento do Bairro Rosário) e a do Areão, responsável pelo abastecimento do restante da cidade.
A Caixa D'água do Areão foi construída em 1930 e ainda funciona, estando concedida à COPASA, que é muito bem remunerada para dar manutenção nos bens que integram a concessão.

Como bem cultural de indiscutível importância para Andrelândia, a edificação deveria ser restaurada, ganhando de volta o seu telhado, suas janelas e o realce de suas cores. 

Seria um presente para Andrelândia e para o Bairro do Areão.

Ajude a cobrar isso.  Fale com a COPASA e com as autoridades locais que você conhece. Preserve o patrimônio da cidade.







A Caixa D'água em 1930

A Caixa D'água hoje.




Antigas Torneiras Públicas