Em
1892 aconteceu em Carrancas, então Distrito do Turvo, um dos episódios mais
trágicos da história de nossa região.
Havia
chegado há pouco no arraial de Carrancas um domador de burro bravo, natural do
Uruguai, com cerca de 30 anos de idade, chamado Paulino Franco, que era exímio
montador de bois, laçador e vaqueiro, por estar acostumado com essas lidas na região
do Rio da Prata.
Bom
de serviço e muito prestativo, trabalhou nas Fazendas da Rocinha e das Bicas,
em Carrancas.
Ocorre que Paulino se apaixonou por uma linda
moça de 18 anos, chamada Maria Jorgina Ribeiro, filha de Zeferino Jose Garcia e
de Maria Madalena das Dores, a quem tentou desposar. Contudo, Paulino foi
recusado pela família da moça, que não admitiu a proposta de namoro, fato que era bastante comum à época.
Durante
um leilão realizado na festa da Padroeira da Cidade, o leiloeiro ofertou uma
prenda inusitada: uma tábua. Vários circunstantes começaram a dar lances pela
prenda dizendo que era para ser de Paulino Franco, que estava presente. Não entendendo
a zombaria, Paulino perguntou o que aquilo representava a Rosendo Andrade, que
lhe esclareceu que era um símbolo de rejeição por uma mulher.
Paulino
ficou envergonhado e furioso com a brincadeira, prometendo vingança.
O peão Paulino Franco
Acervo de Itabyr Carvalho
No
dia 10 de dezembro de 1892 ocorria um baile no casarão do Sr. Antônio Francisco
de Souza Andrade, situado na Praça da Matriz. Paulino havia preparado sua
vingança, deixando seu animal amarrado nas proximidades para empreender fuga
após a execução de seu plano diabólico.
Logo
ao entrar no salão de baile, Paulino apunhalou Maria Jorgina covardemente pelas
costas, lançando-a morta ao chão. Acuado pelos presentes, Paulino, de faca em
punho, dizia que quem se aproximasse teria o mesmo fim de Maria Jorgina.
Tentou esfaquear Rosendo Andrade e conseguiu atingir o turvense Antônio Pereira Gustavo na barriga, mas este sobreviveu.
Tentou esfaquear Rosendo Andrade e conseguiu atingir o turvense Antônio Pereira Gustavo na barriga, mas este sobreviveu.
Maria Jorgina Ribeiro, a vitima de Paulino Franco
Acervo de Itabyr Carvalho
Entretanto, Américo de Souza Andrade conseguiu se apoderar de uma tranca de porta e atingir Paulino na
cabeça, pelas costas, vindo ele a cair ao chão.
Parentes
e amigos da família da vítima amarraram-no ao pé de uma mesa de madeira,
onde o assassino ficou preso até o raiar do dia, quando deliberaram linchar e
matar o uruguaio, pois não confiavam na justiça e temiam a fuga do assassino,
que tinha fama de ter pacto com o demônio.
Conta-se que, durante a noite, Paulino teria ficado insultando a família da vítima, dizendo que quando ele fosse solto, iria voltar a Carrancas para desenterrar os ossos dela e fazer um patuá.
Conta-se que, durante a noite, Paulino teria ficado insultando a família da vítima, dizendo que quando ele fosse solto, iria voltar a Carrancas para desenterrar os ossos dela e fazer um patuá.
Na
manhã do dia 11 de dezembro de 1893 Paulino foi levado para a Praça, onde
começou a ser apedrejado e alvejado por dezenas de tiros, após ter sido
amarrado no pé do cruzeiro. Contudo, passaram-se horas e ele não morria, o que
fez aumentar sua fama de ser sobrenatural, que tinha o corpo fechado.
Paulino Franco foi assassinado defronte a Igreja Matriz de Carrancas
Uma
benzedeira afirmou que somente uma bala de cera benta poderia matar Paulino.
Então, buscaram uma vela benta na Igreja, esculpiram uma bala e colocaram em
uma espingarda, disparando-a contra o corpo ensanguentado do moribundo, que,
finalmente, veio a falecer por volta das 9.00h.
Queriam
queimar o seu corpo, mas o Coronel Antônio Andrade não permitiu, mandando um
camarada cavar uma sepultura de fora do cemitério, onde o corpo de Paulino foi
enterrado, após ser para lá arrastado em um cavalo.
O assento do seu óbito é de teor seguinte:
“Aos onze dias do mês de Dezembro de mil oitocentos e noventa e dois, neste districto de paz da parochia de Carrancas, termo e Comarca do Turvo, Estado de Minas Gerais, em meu Cartorio compareceu o primeiro Juiz de Paz, Antônio Jose Correa e em presença das testemunhas adiante nomeadas e assignadas declarou: que no dia, mes e anno supra, na Praça Publica desta freguesia, foi assassinado PAULINO FRANCO, natural do Rio da Prata, de trinta annos presumiveis, pião, de filiação desconhecida, que ignora si é ou não casado, residente, ha pouco tempo neste districto, não deixou testamento e vai ser sepultado no cemiterio desta freguesia. E para constar lavrei este termo em que assigno com o declarante e as testemunhas Misael Franco de Carvalho e Antônio Leandro Ferreira, que attestam por conhecimento que o assassino é o mesmo mencionado neste termo. Eu Affonso Celso Ferreira, escrivão de Paz, o escrevi e assigno. Affonso Celso Ferreira: Antônio Jose Correa: Antônio Leandro Ferreira: Misael Franco de Carvalho.
O assento do seu óbito é de teor seguinte:
“Aos onze dias do mês de Dezembro de mil oitocentos e noventa e dois, neste districto de paz da parochia de Carrancas, termo e Comarca do Turvo, Estado de Minas Gerais, em meu Cartorio compareceu o primeiro Juiz de Paz, Antônio Jose Correa e em presença das testemunhas adiante nomeadas e assignadas declarou: que no dia, mes e anno supra, na Praça Publica desta freguesia, foi assassinado PAULINO FRANCO, natural do Rio da Prata, de trinta annos presumiveis, pião, de filiação desconhecida, que ignora si é ou não casado, residente, ha pouco tempo neste districto, não deixou testamento e vai ser sepultado no cemiterio desta freguesia. E para constar lavrei este termo em que assigno com o declarante e as testemunhas Misael Franco de Carvalho e Antônio Leandro Ferreira, que attestam por conhecimento que o assassino é o mesmo mencionado neste termo. Eu Affonso Celso Ferreira, escrivão de Paz, o escrevi e assigno. Affonso Celso Ferreira: Antônio Jose Correa: Antônio Leandro Ferreira: Misael Franco de Carvalho.
Os bens de Paulino Franco (cavalos, éguas, trastes de vaqueiro e roupas) foram arrecadados pela Justiça da Comarca do Turvo e levados a leilão em 1893.
Foram
acusados do assassinato 11 réus, alguns como autores e outros como partícipes, segundo noticiado pelos jornais A Cidade do Turvo e o Amigo do Povo.
Os
réus foram levados a julgamento perante o Tribunal do Júri do Turvo em 01 de
setembro de 1893, sendo absolvidos por unanimidade após defesa apresentada pelo
Dr. Ernesto Braga, em sessão presidida pelo Dr. Isidro Pereira de Azevedo, funcionando como Promotor de Justiça o Dr. Antônio de Souza Lima Motinha.
O caso gerou grande comoção na região de Andrelândia e, ainda hoje, é muito comentado pelos mais antigos.
Maiores informações sobre os fatos podem ser obtidas nos livros e links abaixo:
AZEVEDO, Álvaro de. Andrelândia. Fatos de sua vida político-social. Rio de Janeiro. 1954.
FRAZÃO, Francisco José de Rezende. CARRANCAS: PALCO DE UM CRIME HEDIONDONO APAGAR DO SÉCULO DAS LUZES.
Notícia da absolvição dos acusados - 1893
O caso gerou grande comoção na região de Andrelândia e, ainda hoje, é muito comentado pelos mais antigos.
Maiores informações sobre os fatos podem ser obtidas nos livros e links abaixo:
AMATO, Marta. A Freguesia de Nossa Senhora das Carrancas e sua
história. São Paulo: Loyola, 1996.
AZEVEDO, Álvaro de. Andrelândia. Fatos de sua vida político-social. Rio de Janeiro. 1954.
FRAZÃO, Francisco José de Rezende. CARRANCAS: PALCO DE UM CRIME HEDIONDONO APAGAR DO SÉCULO DAS LUZES.
Embornal de Causos - "Quem
conta um conto, aumenta um ponto - a utilização das novas mídias como veículo
de preservação do patrimônio imaterial", realizado em 2010 e hoje como
PROGRAMA DE EXTENSÃO da UFSJ". O
caso do peão Paulino - Balbino de Souza Rezende
Embornal de Causos - "Quem
conta um conto, aumenta um ponto - a utilização das novas mídias como veículo
de preservação do patrimônio imaterial", realizado em 2010 e hoje como
PROGRAMA DE EXTENSÃO da UFSJ". Outra
versão do caso do "Peão Paulino"
Faltou mencionar a obra de Bráulio Teixeira da Cunha, de Madre de Deus de Minas, um parente próximo da falecida Maria Jorgina Ribeiro, que escreveu a obra Tragédia de Paulino Franco.
ResponderExcluirSeja como for, essa é a parte deste site que poderíamos chamar 'O povo na TV' dada a sua vocação para ver verter o sangue de uma jovem e fazer apologia de um assassino.
Essa matéria de gosto duvidoso somente poderia ter sido publicada no dia 24 de dezembro de 2017, o dia seguinte ao dia dos bandidos justiçados.
Olá, Luciano.
ExcluirTeria o contato do dono da obra citada?
Poderia me retornar através do e-mail da Secretaria Municipal de Turismo e Cultura de Carrancas ?
turismoecultura@carrancas.mg.gov.br
A legenda da foto de Maria Georgina não é do acervo citado. Esta foto foi tirada por mim, Faz. Santa Fe
ExcluirQue história triste. Como sempre, a vingança é vazia. Tentaram lavar sangue com mais sangue em vez de entregar o assassino à justiça.
ExcluirNessa história ninguém foi inocente e a revolta do assassino obviamente não foi só por causa de uma tábua.
Com certeza o caso serviu de exemplo para que outras mimadinhas poderosas não insultassem a quem não conheciam.
Eu sou sobrinha neta de Braulio Teixeira,escutei essa historia minha infancia inteira,inclusive meu pai tinha o livro,emprestou e se perdeu
ExcluirNa minha infância eu morria de medo de passar próximo ao Casarão!!!Era de arrepiar!!!!
ResponderExcluirA ideia dos homens maus, dos homens que pensaram em se perpetuar no poder, entre nós desde o século XIX sempre foi criar vergonha, medo, repulsa. Nisso eles conseguiram, deixaram-nos atônitos. Mas, aos poucos a honra ressurge das cinzas, assim como a Fenix. Alguém disse certa feita: os cães ladram, mas a caravana - "da história" - passa!
ExcluirOla Marcolio. Deu avo Nhozinho contava esse povorrido com todos fetalhes. Abracos. Dimas
ResponderExcluirA História Oral como método de pesquisa aliada às fontes históricas (documento escrito) resgatando a mentalidade e o imaginário de uma sociedade. Na questão apresentada percebe-se o xenofobismo (o protagonista era do Uruguai em uma região de Minas), o patriarcalismo e o elitismo aliada ao misticismo barroco.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirNa verdade, Zé Nóis, o correto em Carrancas foi a história oral (com os casos contados dentro de casa, que falavam da mentira do personagem 'Sete Orelhas'), aliada às fontes históricas, p. ex., certidões de nascimento apontando nomes de família trocados, Garcia por Ribeiro e da Silva por Guimarães), somente assim se consegue efetivamente resgatar a história de Carrancas.
ResponderExcluirEu tenho o livro original escrito por Braulio Teixeira, inclusive meu pai falava desse tio Braulio. sou de madre Deus, ganhei o livro de presente da minha mãe, que naquele tempo não existia televisão, minha mãe era mocinha nova, e toda tarde, ela sentava no balcão da venda do meu avô ( madre de Deus) e liaum trechinho do livro do tio Braulio para os compadres do meu avô. Inclusive, quando eu era adolescente, quando se perdia algum objeto, mandava celebrar uma missa p a alma do Paulino
ResponderExcluirQuem e seu pai?
ExcluirEu sou neta de osorio eloy teixeira irmao de braulio teixeira, sou filha de paulo Teixeira.
ExcluirEu tenho um "escrito" de meu avô Américo Brasileiro Souza Andrade que descreve o fato do linchamento. Por essa descrição ele e meu bisavô tentaram impedir que essa tragédia acontecesse.
ResponderExcluirQuando criança, década de 70, muitas vezes passávamos próximo a esse casarão abandonado e "mal assombrado" e, por curiosidade, adentrávamos nele. Existiam marcas de sangue no formato de mãos humanas nas paredes de alguns cômodos da casa. Diziam os mais velhos que aquelas marcas eram vestígios da tragédia hora contada.
ResponderExcluirFato é que esse casarão foi reformado (década de 80, acho, inclusive trabalhei lá na ocasião da colocação da laje) e hoje se tornou um cartão postal aos turistas que vão visitar Carrancas.
Confirmo, Clésio. Estas marcas de sangue, sob camada de cal realmente existiu. Na minha infância em Carrancas, anos 70/80, o casarão estava muito abandonado, com uma pintura amarelada muito desgastada, vidros das janelas quebrados e mato abundando. (Esta precariedade deixava o casarão ainda mais assombrado). A dúvida é: quando iniciou o abandono da casa? O mesmo tem a ver com o trágico acontecimento? Em tempo: no site https://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/1117 contém transcrição da certidão de óbito dos principais envolvidos. O sr. Gabriel Leandro da Fonseca e o sr. Thomás Leandro da Fonseca, que aparecem como testemunhas, são respectivamente meu trisavô e tio-bisavô. Meu pai (1918-1997) contava alguns fatos (até engraçados) da participação das testemunhas e detalhes da contra-dança que prenunciou o assissinato.
ExcluirNo livro ele era argentino,aqui disse que era uruguaio ????
ResponderExcluirO Promotor do Caso, Antonio Mottinha, foi meu bisavô, curioso achar o nome dele nesta história.
ResponderExcluirsou descendente de Joao Leite Garcia tio da jorgina gostaria de saber mais detalhes deste crime.
ResponderExcluirMeu bis avo Joao leite veio para a cidade de Carmopolis de Minas em 1904 e meus avos contavam sobre estes fatos "Sete Orelhas e Paulino"
Edilson, para conhecer a história do Sete Orelhas, além de um pouco mais sobre a Tragédia de Paulino Franco, leia o livro O Sete Orelhas, que pode ser acessado via https://www.amazon.com.br/Sete-Orelhas-hist%C3%B3ria-persegui%C3%A7%C3%B5es-descendentes-ebook/dp/B099Q4K1VX/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=20XTE5HAGZR3M&keywords=livro+o+sete+orelhas&qid=1645292609&sprefix=livro+o+sete+orelhas%2Caps%2C217&sr=8-2
ResponderExcluirAlguém sabe o local a onde ele está enterrado
ResponderExcluirQuando criança, contavam uma lenda, que antes de cair ela apoiou a mão insaguentada na parede ,ficando a marca .Pintaram várias vezes e a marca da mão sempre voltava.
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