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domingo, 24 de fevereiro de 2019

DR. DINIZ RANGEL - MÉDICO E COMBATENTE - ORGULHO DE ANDRELÂNDIA



Desde os meus tempos de menino ouvia meu avô materno falar, com grande admiração e orgulho, do Dr. Diniz Rangel, com quem ele havia trabalhado nas obras da ferrovia de Andrelândia, quando da eletrificação da Rede Mineira de Viação (RMV, também conhecida como Ruim Mas Vai), na década de 1930. Era tido por meu avô como verdadeiro ídolo, por ser excelente médico,  especialista em cirurgias complexas e Veterano de Guerra.

Dr. Diniz Rangel

Também guardo comigo, com especial carinho, algumas receitas subscritas pelo nobre facultativo, que cuidou de muita gente de minha família, inclusive de minha mãe, ainda quando bebê.

Cabeçalho do Receituário do Dr. Diniz Rangel


O Dr. Diniz Martins Rangel Júnior, filho de Diniz Martins Rangel e Maria Angélica Martins, natural de Santa Cristina do Pinhal, no Rio Grande do Sul, onde nasceu em 25 de junho de 1887, chegou a Andrelândia em 1930, por ocasião da Revolução. Era Capitão da Coluna Contreiras, formada sobretudo por gaúchos residentes no RJ e MG, que apoiavam Getúlio Vargas.


Durante os enfrentamentos de 1930, sabe-se de seu destemor e engajamento na causa revolucionária. Lutou nos altos da Mantiqueira, na Serra do Pacau, combatendo as forças legalistas e socorrendo seus companheiros de batalha.


Mas seu sentimento de patriotismo já havia se manifestado anteriormente, pois em 1918 integrou a Missão Médico-Militar do Brasil na França, durante a 1ª Grande Guerra Mundial, ocupando o posto de 1º. Tenente. No continente europeu, mais especificamente em Paris, cuidou de muitas vítimas da guerra no Hospital  instalado na Rue Vaugirarde, onde hauriu conhecimentos técnicos de relevo que teve oportunidade de exercitar anos depois em Andrelândia.


Partida da Força Médico-Militar para a Europa durante a 1ª. Guerra Mundial. 
Dr. Diniz Rangel estava entre os médicos enviados.

Um fato de relevo ficou registrado a tal respeito. Na década de 1930 o Sr. Alvim dos Santos, residente em Bom Jardim, na região do Pacau, sofreu uma queda de trem e partiu as duas pernas. Levado à Santa Casa de Misericórdia de Andrelândia, Dr. Diniz Rangel comandou a complicada cirurgia, inclusive convocando o Dr. José Andrade Godinho, dentista, para usar o aparelho de obturações para perfurar os ossos do enfermo, que foram emendados e parafusados.  Depois de seis meses de repouso,  o paciente voltou a andar normalmente.

Casa onde morou o Dr. Diniz Rangel


Em nossa cidade o Dr. Rangel  era médico da Caixa de Assistência da Estrada de Ferro, clinicava na Santa Casa de Misericórdia e também possuía consultório em sua residência, situada na esquina da Rua Coronel José Bonifácio com a Rua Emílio Cardoso, ao lado da Praça Visconde de Arantes. A casa foi posteriormente vendida para o Maestro Mário Martins e, em seguida, para Walter Meirelles.

Receituário da Caixa de Aposentadoria dos Ferroviários - um dos mais antigos planos de saúde de Andrelândia

Dr. Rangel, como era conhecido, era pessoa de espírito elevado e se dedicava, de corpo e alma, à profissão, sem se importar com a remuneração de seus serviços.

Na Santa Casa de Misericórdia há um quadro com a fotografia dele, em agradecimento pela sua dedicação àquela instituição filantrópica. Também em sua homenagem, uma das ruas do Bairro São Dimas recebeu o seu nome.

O nosso personagem faleceu no Rio de Janeiro em 02 de janeiro de 1950, no Hospital Central do Exército,  e foi sepultado no Cemitério São Francisco Xavier. Era casado com Dona Marieta Barati e pai de Diniz Rangel Neto.

Obrigado, Dr. Diniz Rangel, por tudo o que fez pela Terra de André e sua gente !

sábado, 23 de fevereiro de 2019

TRIBUTO DE GRATIDÃO AO CARIDOSO DENTISTA RUFINO PEREIRA JÚNIOR




                Nos tempos de antanho, quando raros eram os profissionais da área da saúde e precárias as técnicas de tratamento, a dor de dente era um dos maiores e mais temidos tormentos da população brasileira.
Rufino Pereira Júnior no início de seus estudos de odontologia


Nas cidades do interior, aqueles que experimentavam  problemas bucais, a exemplo de cáries, perda de dentes e afecções, em geral tinham que recorrer a “curiosos” e “entendidos” que, em geral, receitavam o uso de infusões de plantas medicinais, a ingestão de cachaça ou arrancavam o “elemento problemático” com as próprias mãos ou se valendo de ferramentas improvisadas, como turquesas de uso nas lidas da roça.

No início do século XX a odontologia na região da cidade do Turvo, a nossa Andrelândia, era ainda muito incipiente e poucos eram os profissionais que podiam aliviar o sofrimento dos que padeciam  de dores de dente.

Entre os pioneiros que chegaram à cidade com tal missão está o Sr. Rufino Pereira Júnior, que por cerca de três décadas dedicou-se, com esmero e desprendimento, a aliviar o sofrimento principalmente dos mais pobres e desvalidos.

Nascido em 04 de abril de 1894 em Santo Antônio da Estrela (atual Estrela Dalva, na  Zona da Mata Mineira),  o nosso personagem era filho de Rufino Pereira e de Maria Deolinda Pereira. 

Tomou gosto pela odontologia prática ainda jovem e já na casa dos vinte anos possuía equipamentos portáteis e desmontáveis, com os quais prestava seus serviços de extração, restauração e tratamento de dentes sobretudo nas fazendas e estações ferroviárias da região. Foi em suas andanças como dentista prático que conheceu a cidade do Turvo, onde passou a atender.

Após ter se casado com a prima Maria da Glória Pereira, Rufino mudou-se para Andrelândia, adquirindo uma casa na antiga “Avenida Minas Geraes”, atual Avenida Nossa Senhora do Porto, em local hoje correspondente à casa da família do Sr. Sebastião de Sousa (Sr. Tãozinho do Posto), onde nasceram os filhos Eny Pereira, João Batista Pereira, Maria Deolinda Diniz e Marilena Lourenço Pereira.

O imóvel, que contava com um alpendre lateral, também abrigava o gabinete dentário do Sr. Rufino, onde boa parte da sociedade andrelandense tratava dos dentes. No início, os equipamentos de perfuração, para fins de obturação, eram movidos a correias de couro inseridas em polias tocadas a pedal. Era a tecnologia então disponível.

Sr. Rufino e Dona Maria da Glória com os filhos Eny, João Batista, Maria Deolinda e Marilena, na casa situada na Avenida Nossa Senhora do Porto. Década de 1930

Na década de 1930, quando o Sr. Rufino formou-se oficialmente em odontologia pela Universidade do Rio de Janeiro, da então capital federal ele trouxe um moderno “Gabinete Electro-Dentário”, revolucionando os conceitos de tratamento odontológico na cidade, com a estruturação do consultório de acordo com as mais modernas tecnologias da época.

Foto de formatura de Rufino - 1936



Convite de  Formatura


Mas para além do profissionalismo e inovação, em nossas pesquisas descobrimos uma faceta do caráter do Sr. Rufino que ficou perdida nas brumas das décadas já decorridas desde que ele nos deixou, prematuramente, no ano de 1944: a caridade.


Rufino no interior do seu sofisticado Gabinete 
Electro-Dentário


Naqueles tempos em que a população rural andrelandense, sabidamente pobre, formava a maior parte de nossos habitantes, muitos eram os que, sofrendo dores torturantes em razão de abcessos e outros problemas bucais,  partiam do Caconde, Congonhal,  Dois Irmãos e outras localidades rurais  em direção ao consultório do Sr. Rufino em busca de tratamento e alívio.

A falta de recursos financeiros do paciente nunca obstou o atendimento atencioso e dedicado do nobre dentista, que tudo fazia para levar o alento e a cura a todos os que demandavam seus préstimos. Velhos tempos de solidariedade e desprendimento...

Não raras vezes, demoradas extrações dentárias e complexas cirurgias realizadas gratuitamente em pessoas carentes eram posteriormente  retribuídas, de forma espontânea e humilde, com galinhas, doces, frutas e ovos. 

A generosidade e a retidão de caráter do Sr. Rufino Pereira Júnior foram transmitidas aos seus descendentes, que, para nossa alegria, ainda hoje fazem parte da família andrelandense. Mesmo os que atualmente residem fora nunca perderam o contato com nossa cidade, à qual dedicam especial carinho.

Ao Sr. Rufino Pereira Júnior, caridoso dentista da Terra de André,  as nossas mais sinceras homenagens e o nosso eterno muito obrigado !

sábado, 9 de fevereiro de 2019

A CACHOEIRA DOS DEFUNTOS DE SANTANA DO GARAMBÉU



No vizinho município de Santana do Garambéu, no Campo das Vertentes de Minas Gerais, a aproximadamente 8 km da cidade,  na divisa com o município de Santa Rita de Ibitipoca, existe uma imponente cachoeira com poços profundos e três lindas quedas formadas no Ribeirão da Bandeira, afluente do Rio Grande.

A beleza da cachoeira, entretanto, contrasta com o nome fúnebre que lhe foi atribuído: Cachoeira dos Defuntos.




Segundo a tradição oral, ainda no século XIX, a Fazenda Pinheirinho,  onde a  cachoeira estava situada, era de propriedade de um homem de sobrenome D’Ávila, que ali mantinha um rancho de tropeiros com acomodações para os viajantes que transitavam pela região, sobretudo fazendo negócios envolvendo bois e porcos para abastecer o Rio de Janeiro. 

O movimento das tropas era intenso e o pagamento feito pelos tropeiros, conquanto módico, representava um ganho razoável para o estalajadeiro.

Contudo, D’Ávila era homem ambicioso e logo percebeu que poderia ganhar mais dinheiro se subtraísse os pertences de seus hóspedes quando passavam com altas somas nas canastras, subindo em direção às fazendas de gado, para fazerem seus negócios.


A partir de então, ele passou a selecionar os tropeiros mais abastados para aplicar o seu terrível plano. Quando descobria a presença de comerciantes com altas somas em seu rancho, D’Ávila tratava com especial atenção a comitiva, inclusive franqueando cachaça gratuitamente a todos os integrantes, que se divertiam em volta da fogueira, tocando viola e contando casos descontraidamente.

Durante a madrugada, quando todos dormiam, D’Ávila e seus sequazes, ávidos pelo ouro e pelas moedas trazidas pelos viajantes, tiravam a vida dos hóspedes tropeiros com extrema rapidez e violência. Os corpos ensanguentados das vítimas eram em seguida amarrados em pedras e jogados no poço mais profundo da cachoeira fronteira ao rancho, desaparecendo sob as águas do ribeirão.

Não se sabe exatamente quantas foram as vítimas do estalajadeiro assassino, mas fato é que ainda hoje existem pessoas que afirmam terem presenciado ossos humanos nas várzeas adjacentes ao Ribeirão da Bandeira após enchentes.


Conta-se que, certa feita, houve uma grande seca na região e um enorme número de ossos ficaram à mostra no areal da cachoeira. Uma  senhora viúva, dona de uma fazenda na região do Morro do Chapéu, teria mandado que seus escravos recolhessem os ossos das infortunadas vítimas de D’Ávila, sendo os mesmos acondicionados em sacos de couro  e levados, em um carro de boi,  para sepultura no adro da Capela de Santana do Garambéu.
        
No ano de 1949, quando trabalhava fazendo decorações no interior de fazendas da região, o pintor alemão Walter Kessler sensibilizou-se com a triste história dos tropeiros assassinados. 

Em um dia de folga, o pintor que morava em Andrelândia, pegou seus materiais de trabalho, enfurnou-se em uma gruta existente no sopé da cachoeira e no seu teto  pintou uma Nossa Senhora. Aos pés da divina mãe de Cristo, Walter fez uma súplica em favor das vítimas cujos corpos ali haviam sido jogados tempos atrás, deixando escrito: VELAE POR ESTES.



Passados setenta anos, a pintura  ainda existe. 

Um testemunho da triste história daqueles que sucumbiram na Cachoeira dos Defuntos.