Total de visualizações de página

sábado, 18 de março de 2017

TANCREDO NEVES EM ANDRELÂNDIA. O CASO DO BARBEIRO.

Entre os homens públicos mais reconhecidos no cenário político nacional encontra-se o Presidente da República, Dr. Tancredo de Almeida Neves, mineiro de São João del-Rei,  a sonhada capital dos Inconfidentes, onde nasceu em 04 de março de 1910 e foi batizado na Matriz de Nossa Senhora do Pilar, em 18 de agosto do mesmo ano, pelo Monsenhor Gustavo Ernesto Coelho.

Tancredo, residente na vizinha São João del-Rei, esteve por diversas vezes em Andrelândia, onde contava com significativo apoio político de lideranças locais e advogava para alguns amigos.

Tancredo Neves ao lado do Padre Jaime, em Andrelândia, durante a inauguração do prédio do Correio

E uma história inusitada aconteceu em nossa cidade envolvendo o famoso Presidente.
Vejamo-la:
Na década de  1930, mais precisamente entre 1932-1934, Tancredo Neves  foi Promotor de Justiça em São João del-Rei, onde um homem chamado Jesus matou, a facadas, uma mulher chamada Madalena, esviscerando-a.
Tancredo pediu 22 anos de cadeia para Jesus, o júri deu 18. O réu foi para a cadeia e  Tancredo esqueceu o fato.
Nove anos depois, enquanto advogado, Tancredo vai a Andrelândia para despachar um processo judicial.
De barba por fazer, entrou numa modesta barbearia situada próxima ao cemitério velho, sentou-se e, cansado, fechou os olhos, aguardando calmamente o barbear. 
O barbeiro aproximou-se, pegou a navalha,  afiou-a com esmero e começou a tirar-lhe a barba, puxando conversa: – O senhor é o Dr. Tancredo Neves, né? Tancredo abre os olhos, reconhece Jesus, o assassino de São João del Rei. 

Espia pelo canto do olho, a barbearia vazia, a rua vazia, não chegava ninguém, não passava ninguém, o suor minava abundante na protuberante careca e Jesus com a navalha enorme na mão pesada correndo garganta abaixo, sobe-desce, sobe-desce...



Jesus não disse mais nada e aguardou taciturno a resposta. 

Tancredo só teve voz para dizer: 
– Sou, sim. 
– Pois é, Dr. Tancredo, a vida. 
– Pois é, Jesus, a vida.
– Cumpri nove anos dos 18, estou aqui, o senhor aí, o senhor com sua barba, eu com minha navalha. Só queria lhe dizer uma coisa, Dr. Tancredo...

Tancredo suava frio, Jesus corria a navalha pelo pescoço.

 – Que coisa bonita é um júri, hein, Dr. Tancredo? Que coisa mais bonita, que discursos bonitos que o senhor e o outro doutor fizeram antes de me mandarem para a cadeia !
Terminado o trabalho, Jesus guardou a navalha vagarosamente, olhando para o pescoço de seu antigo algoz.
Suando em bicas e completamente trêmulo, o católico Tancredo deu a maior nota que tinha para o barbeiro e ao deixar o aposento, suspirou profundamente  dizendo em tom de invocação:  
- Meu Jesus !,  ao  que retorquiu com voz gutural o xará do Mestre da Galileia: -  Pois não, Doutor !
Tancredo berrou apavorado: - É o outro !
E saiu em desabalada carreira rumo ao hotel de Andrelândia, onde precisou trocar a calça.

9 comentários: