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domingo, 2 de junho de 2019

ZÉ GODINHO, O PRECURSOR DA ARQUEOLOGIA EM ANDRELÂNDIA




Nos dias de hoje Andrelândia é reconhecida nacionalmente como uma das cidades mais dedicadas à preservação de seu patrimônio pré-histórico.

O Parque Arqueológico da Serra de Santo Antônio, criado em 1994, com pinturas rupestres de mais de três mil anos de idade, tombadas pelo Município como patrimônio cultural, figura em dezenas de trabalhos acadêmicos e livros sobre a arqueologia brasileira.

Também existe na cidade o Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande (NPA), entidade criada na década de 1980 e considerada como uma das mais antigas ONGs de defesa do patrimônio cultural brasileiro. Pelo trabalho voluntário em defesa do patrimônio arqueológico de Andrelândia, o NPA recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade no ano de 2003. Concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Prêmio é considerado a maior honraria nacional na área do patrimônio cultural do país.

Mas tudo isso não ocorreu por acaso.

É de se reconhecer que quem deu os primeiros passos na defesa do patrimônio arqueológico de Andrelândia foi o Dr. José Godinho Filho, cirurgião-dentista, carinhosamente conhecido em Andrelândia como Zé Godinho.

Zé Godinho em seu Jipe Land Rover


Muito inteligente, curioso e de rara perspicácia, Zé Godinho – além de excelente dentista - era uma espécie de mistura de Indiana Jones com MacGayver, pois adorava pesquisar coisas antigas e consertar equipamentos. Não bastasse, tinha um radioamador que era responsável por fazer a comunicação dos assuntos mais importantes entre  Andrelândia e diversas partes do país e do mundo. Enfim, uma pessoa à frente do seu tempo.

Nascido em Andrelândia em 14 de janeiro de 1918, era filho de José de Andrade Godinho e Maria José Godinho. Neto paterno de Evaristo Pereira Godinho e Ubaldina de Andrade Godinho. Neto materno de Ernesto da Silva Braga e Maria Jesus de Carvalho Braga. Casou-se com Wanda Rezende Godinho em 17 de junho de 1944.
 
Em meados do século José Godinho era proprietário de uma empresa de coleta de “Rutilo”, rocha composta por dióxido de titânio,  abundante na região e que era exportada para a Europa e para o Japão para uso em equipamentos bélicos, sobretudo.

Amante da arqueologia (tinha diversos livros sobre o assunto e falava  Tupi-Guarani), Zé Godinho conhecia muito bem o território andrelandense e sabia que existiam muitos vestígios pré-históricos  confeccionados em pedra polida espalhados pela região, tais como machados e soquetes. 


Zé Godinho em uma de suas expedições pelos rios de Andrelândia

Na zona rural esses artefatos eram conhecidos como “pedras de raio” ou “pedras de corisco”, pois uma lenda secular  dizia que eles caiam na terra juntamente com os relâmpagos.

Como Zé Godinho tinha diversos fornecedores de rutilo para a sua empresa, que faziam a coleta do mineral nos campos da zona rural, ele começou a orientá-los no sentido de que deveriam também procurar pelas “pedras de raio” e, assim, com a inteligente iniciativa, ele foi formando a primeira coleção de instrumentos arqueológicos de Andrelândia, chegando a atingir cerca de cem peças.

Parte da coleção de Zé Godinho chegou a ser levada para o Colégio Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, sendo incorporada ao acervo da “Sala de Ciências”. Foi lá que este escritor se deparou, pela primeira vez, com um machado pré-histórico semilunar, o que me despertou um enorme interesse pelo assunto arqueologia, fato que certamente ocorreu com muitos outros alunos, hoje defensores do patrimônio cultural de Andrelândia.



Artefatos pré-históricos da coleção Zé Godinho

Lembro-me que nas "Feiras de Ciências" do Colégio o assunto arqueologia estava sempre presente, o que motivou, inclusive, diversas excursões de alunos à Serra de Santo Antônio, para conhecerem as pinturas rupestres nos idos de 1980.

Em maio de 2014, parte da coleção arqueológica de José Godinho Filho foi entregue pela família ao Núcleo de Pesquisas Arqueológicas do Alto Rio Grande, que está realizando minucioso trabalho de catalogação e inventário das peças, para divulgação científica dos achados.

Filho e neto do pioneiro  José Godinho apresentando a coleção de artefatos pré-históricos ao arqueólogo francês André Prous (esquerda), uma das maiores autoridades em arqueologia no Brasil.


    Enfim, devemos muito a José Godinho Filho, o querido Zé Godinho,  pela sua ação pioneira na coleta e preservação dos vestígios arqueológicos de Andrelândia, motivando e influenciando outras pessoas a seguirem os mesmos passos.


Andrelândia não seria a mesma sem o trabalho por ele aqui desenvolvido.

Ao Dr. José Godinho, falecido na em 23 de abril de 1984, pioneiro na preservação do patrimônio arqueológico da região de Andrelândia, o nosso eterno agradecimento e o mais sincero reconhecimento por tudo o que fez pelo patrimônio cultural de nossa cidade !