Em 1752, quando começaram as obras da Matriz de Andrelândia, o atual território urbano da cidade era apenas um campo ermo, circundado por fazendas e pontos distantes de extração de ouro, sobretudo às margens dos Rios Aiuruoca e Grande.
Matriz de Andrelândia
Logo, a igreja poderia ter sido construída em qualquer ponto e direção pois nada condicionava o seu posicionamento geográfico naquele momento...
Contudo, os antigos Mestres Pedreiros responsáveis pela edificação não agiram ao acaso, pois queriam fazer do templo uma mensagem para aqueles que ainda estavam por chegar, valendo-se de seus conhecimentos e simbolismos multimilenares, herdados de antigas associações que velam pelo bem do planeta de forma discreta e silenciosa ao longo dos milênios, objetivando o lapidar da pedra bruta.
Cuidaram os antigos pedreiros livres de colocar na fachada da Igreja um óculo central, a única abertura frontal não utilitária (a exemplo da porta e janelas) existente no frontispício. E não foi sem razão...
Trata-se de óculo circular, cujo significado simbólico é de extrema profundidade e relevância.
Óculo dentado da Matriz
No seu interior (que poderia ser liso e sem detalhes) existem dentes que se assemelham aos de uma engrenagem de giro contínuo ou às escamas de uma serpente que engole o próprio rabo, o famoso ouroboros, que é um símbolo de ciclos que se repetem em permanente movimento e representa o eterno retorno.
No centro do ouroboros, segundo os antigos ensinamentos, atravessa a luz do sol em ocasiões especialmente relevantes.
O símbolo do Ouroboros, por onde atravessa a luz do sol
Por isso, além do envoltório em forma de escamas de cobra, o óculo possui a parte central vedada por vidro translúcido, a única abertura intencional (não utilitária à passagem humana) destinada à iluminação da Matriz em sua fachada.
Como já dito, tal elemento arquitetônico seria mero detalhe ou curiosidade não fosse o seu especial e alto significado simbólico.
Fazendo uso de modernos softwares de cálculos de geoposicionamento e orientação solar, descobrimos que a igreja Matriz de Andrelândia teve o seu eixo central (a partir do circumponto que mencionamos nos posts anteriores e que significa o sol e o próprio Cristo) orientado para determinada posição geográfica em dia específico do ano.
De acordo com as precisas simulações matemáticas feitas em computador, no dia 21 de junho de cada ano o sol, em seu nascedouro, transpõe o óculo central da igreja e direciona seus luminosos raios em direção ao altar-mor, onde estão o Sacrário com o Santíssimo e a padroeira Nossa Senhora do Porto. Em tal data, não por acaso, ocorre o solstício de inverno.
Demonstração da incidência em linha reta e de forma direta dos raios dos sol sobre o óculo da Matriz durante o seu nascimento no Solstício de Inverno
O solstício (do latim sol + sistere = não se mexe) refere-se ao momento em que o astro solar atinge maior declinação em latitude e aparenta estar parado. Em junho, representa a noite mais longa do período solar.
Representação da incidência direta dos raios do sol na Igreja Matriz no solstício de Inverno (linha vermelha à direita)
Por isso, segundo os antigos ensinamentos trata-se do momento de transição do mundo das longas sombras (o mal) para o surgimento da luz (o bem).
Logo, a Matriz de Andrelândia foi planejada para ser um local de mudança, de transição das sombras para a luz, sendo que esta última é representada pelo próprio Cristo, luz do mundo e sal da terra.