Notícia veiculada no jornal Cidade do Turvo em 1890.
Na biblioteca do IBGE existem as seguintes informações sobre o caso:
Em 1863, com o assassinato do português Manoel Pereira da Silva Júnior, Chefe local do
Partido Liberal, nas proximidades da fazenda Santa Clara, de propriedade dos Fortes, líderes do
Partido Conservador, e a campanha difamatória elaborada pela imprensa, foi feita uma devassa pelo
Governo da Província, a mando do Paço Imperial, no seio da família Fortes, o que motivou a
retirada e a fuga de vários membros da importante família, ficando em Rio Preto somente a
baronesa de Monte Verde, mais tarde viscondessa, e no Estado do Rio, na Fazenda Fernando,
Carlos Teodoro de Souza Fortes, barão de Santa Clara. Em conseqüência dos fatos acima narrados,
foi a sede do município de Rio Preto transferida, em 1864, da Vila de Rio Preto para a povoação de
Nossa Senhora do Porto Turvo.
Seis anos depois, quando os ódios político-partidários já haviam desaparecido e os riopretanos
comungavam de um mesmo ideal, foi definitivamente reinstituído o município de Rio
Preto, e a elevação da vila à categoria de cidade em 1871
Sobre o assunto, colhe-se de um jornal de Rio Preto:
O português Manoel Pereira que morou em Rio Preto pelos idos de 1800 foi um dos protagonistas principais da história do município. Egresso de Portugal, em 1832, Pereira representou no município o Partido Liberal. Era opositor ao Partido Conservador, que abrigava os grandes senhores de terras, cana-de-açúcar, café, fazendas e escravos. Naquele período a Fazenda Santa Clara, que na época pertencia a Rio Preto (hoje é de Santa Rita de Jacutinga), era a principal referência dos conservadores na região da Zona da Mata Mineira. Os Bustamantes Fortes eram donos da fazenda. O prédio histórico tem 365 janelas. Dizia Francisco Thereziano, um dos seus donos, que as janelas permitiam que a família deles visse o pôr do sol, a cada dia, de ângulo diferente.
A beleza da fazenda, hoje prestes a ser tombada pelo governo de Minas Gerais, carrega o símbolo de ter sido pelas suas terras (estima-se que na época eram dois mil alqueires) o plantio do primeiro pé de café no Estado. Entre as paredes, masmorra e senzalas da Santa Clara se escondem muitas histórias de riqueza, opulência e também de crueldade, marcas daquele período colonial. Manoel Pereira foi liderança política de muita importância em Rio Preto. Destemido, o português foi voz discordante dos Bustamantes Fortes. Pela sua ousadia em enfrentá-los foi barbaramente assassinado, em 25 de maio de 1863.
Contam os relatos históricos da época que Pereira pagou com a vida por ter assumido um contrato de risco da construção de uma estrada ligando a região do campo, Andrelândia a Rio Preto. Oitenta por cento do traçado desse caminho passava pelas terras dos Bustamantes Fortes e eles não concordaram com a empreitada, dada pela Província de Minas para Pereira. Ao pagar com a vida pelo empreendimento, o português também virou santo na região. Era comum, até bem pouco tempo, muitos estudantes pagarem promessas no túmulo de Pereira, no Cemitério Nosso Senhor dos Passos, em Rio Preto.
Relatos da história riopretana dão conta que ao ser assassinado, em emboscada, próxima à Fazenda Santa Clara, Pereira foi jogado nas águas do rio Preto amarrado em pedras e correntes. Pois bem, Pereira mesmo com o peso ao seu corpo boiou cinco dias depois, sendo encontrado preso à areia no leito do rio. Um de seus braços apontava para os céus, e nos elos das correntes havia as marcas da Fazenda Santa Clara. Um dos principais mandantes do crime, o juiz Gabrielzinho, que administrava a Santa Clara fugiu para a África. Outro dos mandantes, Antônio Joaquim Fortes optou pelo suicídio.
Como o crime de Pereira repercutiu negativamente junto à sede do Império, no Rio de Janeiro, houve uma devassa fiscal nas atividades e contas da Fazenda Santa Clara. A então Vila de Rio Preto foi a mais atingida pela perseguição da Corte aos Bustamante Fortes. Muitos anos se passaram para que a vila conquistasse o título de cidade. O gabinete liberal, que por volta dos anos 1800 era forte, é que trouxe de volta o prestígio político para Rio Preto. Aliás, enquanto Pereira era vivo foi ele quem mais lutou na região para a libertação dos escravos.
Parabenizo-o pela excelente postagem. Como riopretano, estou convicto de que a vossa contribuição para o resgate da memória histórica extrapola as circunscrições territoriais do município de Andrelândia... És, na verdade, um grande colaborador da história regional!
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