Total de visualizações de página

domingo, 11 de fevereiro de 2018

BREVE HISTÓRIA DAS ANTIGAS FAZENDAS DE ANDRELÂNDIA


O patrimônio cultural andrelandense não se resume aos bens localizados na cidade.

Existem, na zona rural do município, imponentes sedes de antigas fazendas que assinalam a riqueza que seus proprietários alcançaram durante os séculos XVIII e XIX - em razão do grande plantel de escravos, da extração do ouro, do desenvolvimento da pecuária e da agricultura em larga escala.

Associados às sedes ainda existem currais de pedra, moinhos, paióis, valos, pontes, antigas vendas, rodas d'água, porteiras, cruzeiros e outros vestígios que compõem o chamado patrimônio cultural agrário.

São bens frágeis e que, não raras vezes, passam despercebidos aos olhares de muitos.

Um roteiro de visitação a elas viria a constituir um novo diferencial turístico para a cidade, gerando renda para os proprietários !

Preservar o passado pode ser uma ótima forma de fomentar o turismo em nossa cidade. 

Conheça  e divulgue as fazendas coloniais de  Andrelândia  !



FAZENDA DAS BICAS


Era denominada Águas Belas das Bicas, certamente em razão das cachoeiras ali existentes e das antigas bicas de madeira que auxiliavam na condução das águas para a lavagem do ouro nas margens do Rio Aiuruoca, no local denominado Catas.


Trata-se de antiga propriedade de André da Silveira, o fundador de Andrelândia, que por volta de 1758 a vendeu para Manoel Luis da Silva, seu genro.

No século XIX passou a pertencer a João Gualberto de Carvalho, o 1º. Barão de Cajuru. A fazenda contava com uma ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição e um cemitério para sepultamento de escravos.

Ainda hoje pertence a descendentes da família do Barão do Cajurú. Atualmente nela funciona uma aconchegante Pousada.

FAZENDA DAS  LARANJEIRAS


A Fazenda das Laranjeiras foi propriedade, no século XVIII, de Maria de Assunção Moraes,  casada em primeiras núpcias com Lourenço Correa Sardinha, um dos mais antigos habitantes da região.



Eles foram os pais de Ana Maria do Rosário, que se casou em 1759 com o português Domingos João de  Azevedo, que foram pais de Antônio Francisco Sardinha e Bonifácio Antônio de Azevedo, sendo que este  último ficou com a propriedade da Fazenda das Laranjeiras, onde esteve hospedado o francês Auguste de Saint-Hilaire em 1816.



Posteriormente a propriedade foi vendida para o Capitão Tobias de Paula Campos e permanece com seus herdeiros até os dias de hoje.

FAZENDA PARAÍBA

No século XIX foi propriedade de Antônio Belfort de Arantes, o Barão de Cabo Verde. Posteriormente passou para o filho dele, o Visconde de Arantes.

Em 08 de setembro de 1935, Ana Umbelina de Resende (viúva), Sebastião Antônio de Araújo e Maria Ilidia de Carvalho venderam a  Fazenda, com 315 alqueires, para Aquim Ribeiro Guimarães.

Posteriormente foi vendida para a família Salgado.




FAZENDA DAS PEDRAS

Situada na divisa com Madre de Deus de Minas, trata-se de uma das mais antigas fazendas do Município de Andrelândia.



No século XIX foi propriedade de Antônio Ignácio Alves  Lima (nascido em 26 de abril de 1852, filho de José Ignácio Alves Lima e Rita Firmina Leonor) casado  em primeiras núpcias com Delfina Eleutéria de Araújo e em segundas núpcias com Mariana Vitória Alves.


FAZENDA SÃO MIGUEL


Situada no sopé da Serra do Turvo, região da Serra da Bandeira, trata-se do único sobrado rural de Andrelândia.  Foi propriedade do Capitão Manoel Teodoro Pereira, casado com  Maria Brasilina Carvalho, filha do 1º Barão do Cajurú.

Arquitetura típica do século XIX.

Nas suas proximidades existem vestígios de extração de ouro.



FAZENDA BOA VISTA

Situada nas proximidades da divisa com Serranos, trata-se de antiga propriedade do Capitão Manoel Teodoro Pereira, grande produtor rural no século XIX.

Posteriormente passou para o filho, Major Inácio Pereira de Carvalho.







FAZENDA DOS PINHEIROS

Trata-se de antiga propriedade da Família Salgado, cujo patriarca foi o português Bento Ribeiro Salgado.




Até 1844 pertencia a Dona Ana Luiza Teixeira, viúva de Inácio Ribeiro Salgado.

A partir de então foi transferida para o filho do casal, Alferes Gabriel Ribeiro Salgado.

FAZENDA BAHIA

Situada nas proximidades da Serra dos Dois Irmãos, trata-se de fazenda desmembrada das antigas terras do Sargento-Mor Lourenço Correia Sardinha.

Foi propriedade de José Justino de Azevedo e, posteriormente, do filho dele, o Coronel José Bonifácio de Azevedo, fundador do Partido Veado em Andrelândia.

Aí foi implantada no final do século XIX a Fábrica de Manteiga Veado, a segunda mais antiga de Minas Gerais.








Se você quiser saber, com detalhes, a história das Fazendas e Famílias de Andrelândia,  conheça o livro:

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A HISTÓRIA DOS VEADOS E CARANGUEJOS



A rivalidade  entre o partido dos "Veados" e dos "Caranguejos" em Andrelândia remonta ao século XIX e talvez seja um dos mais acirrados, pitorescos e duradouros embates políticos de Minas Gerais e do Brasil.

Coisa digna de novela, com direito a cenas épicas, como a fuga de um casal de jovens apaixonados, na década de 1930, que não podiam se casar porque os pais eram inimigos políticos...





Questões de gênero, biológicas e politicamente corretas à parte, em Andrelândia  diz-se que há veado machocaranguejo que não dá ré... 

Coisas do Turvo, que merecem ser melhor  estudadas e compreendidas. 






O jornal, de abrangência nacional, O Globo,  de 14 de agosto de 2010, chegou a noticiar:

Andrelândia, onde os grupos políticos dos 'veados' e dos 'caranguejos' dão as cartas.

RENATO GRANDELLE

ANDRELÂNDIA - Entre a Serra da Mantiqueira e a depressão do Rio Aiuruoca esconde-se Andrelândia, reduto mineiro inalcançável para os hábitos de metrópole ou as complexas siglas partidárias. Seus 12 mil habitantes não enxergam tucanos ou estrelas petistas no céu, menos ainda nas urnas. A fauna política local é regida por "caranguejos" e "veados", facções que se revezam no poder e figuram em folclóricas tramas de segregações, casamentos polêmicos e até ruas de calçamento inacabado.
Há algo de conspiratório no reino de cervídeos e crustáceos; ambos respondem em uníssono quando questionados sobre a divisão política da cidade. O discurso oficial é que o controverso bipartidarismo empacou Andrelândia, que só recentemente experimentou algum desenvolvimento.





O Estado de Minas também  já dedicou página inteira sobre o assunto no Caderno de Política.






A origem dessa divisão está intimamente relacionada a dois grandes vultos de nossa história: Coronel José Bonifácio de Azevedo, por um lado, e Visconde de Arantes, por outro.

Foi por volta de 1830 que veio se estabelecer no Turvo a família de Antônio Belfort de Arantes, pai de Antônio Belfort Ribeiro de Arantes, mais tarde o Visconde de Arantes. Antônio Belfort de Arantes, logo que chegou ao Turvo colocou-se à frente dos assuntos pertinentes ao Arraial, que ainda não possuía independência administrativa, comandando-o  inclusive como representante na Câmara Municipal de Aiuruoca.  Participou ativamente das Revoluções de 1833 e 1842, como declarado Liberal.

A criação da Vila Bela do Turvo em 1864 e a sua instalação em 1866 decorreu, em grande parte, da atuação e da força econômica e política da família Arantes, que inclusive patrocinou a construção da sede da Câmara e Cadeia.

Instalada a Câmara, durante muitos anos membros da família Arantes, ou pessoas intimamente ligadas a ela, ocuparam a presidência da Câmara Municipal da Cidade do Turvo, em um sistema de compadrio evidente. O Visconde de Arantes, como chefe do partido, era o comandante absoluto e incontestável do Turvo e contava com o apoio da quase  totalidade de seu eleitorado.

Contudo, no ano de 1887, surgiram contrariando a indicação sempre respeitada do Visconde de Arantes, apoiando o nome de Cesário Alvim na eleição senatorial, os sete primeiros insurretos. Estes, que receberam do próprio Visconde de Arantes o apelido coletivo de "Os sete pecados mortais", foram: José Bonifácio de Azevedo, José Ribeiro Salgado Júnior, Francisco Silva Vilela, Antonino Pereira Gustavo, Francisco Nogueira, Manoel Gonçalves de Alcântara e Sebastião José de Paula. Embora poucos, eles deram o impulso inicial a um movimento que viria ganhar força e remodelar a política municipal.


O Coronel José Bonifácio de Azevedo assumiu a liderança do movimento revoltoso e saiu em peregrinação pelo município do Turvo aliciando fazendeiros, intelectuais, militares e gente do povo para a fundação de um Partido com que se enfrentasse o potentado titular do Império.

Fundado o partido liderado pelo Coronel José Bonifácio com o nome de Partido Republicano do Turvo (PRT), na primeira eleição disputada apareceram contra o Visconde não apenas os sete primeiros insurgentes, mas centenas de eleitores, que, no entanto, não foram suficientes para derrotá-lo.

Em 1894, após muito trabalho por parte do PRT, conseguiu-se, finalmente, bater nas urnas a forte política do Visconde de Arantes. Este, porém, inconformado com a derrota, tomou asilo na Fazenda Paraíba, juntamente com os maiorais de seu partido, levando também os arquivos da Câmara Municipal, com o propósito de não dar posse à Câmara recém-eleita.

Quase se deu uma hecatombe...


A partir de então, surgiram as alcunhas que nomearam "Veados" os adeptos do PRT e "Caranguejos" os correligionários do Visconde de Arantes.

A explicação para as designações é a seguinte: vimos que o Visconde de Arantes foi por muito tempo o chefe absoluto e incontestável do Turvo, contando com a quase totalidade de seu eleitorado. Em 1887 surgem os primeiros rebeldes; a primeira subtração significativa em seus votos. Em 1890 aparecem contra o Visconde centenas de votos; a segunda e mais significativa subtração. Em 1894, os adeptos do PRT superaram em número os adeptos do Partido do Visconde. 

A tradição diz que um dos maiorais da facção do Visconde, inconformado com esta derrota, fez em público a seguinte observação: "Não é possível nossos votos terem diminuído tanto! Andamos para trás! Parecemos Caranguejos!". Este fato foi glosado com humor nos jornais da época, de franco espírito satírico.

Por outro lado, os membros do PRT comemoravam euforicamente a votação maciça que conseguiram obter. Um verdadeiro pulo, como dá o veado, veloz cervídeo, quando está sendo perseguido.

Durante muito tempo, embora existissem no município inúmeros partidos políticos de siglas imponentes, nas eleições municipais eles sempre formavam irredutivelmente dois blocos coesos e antagônicos: o dos "veados" e o dos "caranguejos", que se rivalizavam de maneira implacável.

Esta, a história.

Que todo Andrelandense possa refletir sobre a conveniência e a necessidade da manutenção desse sectarismo secular.

Não seria o momento de conhecer o passado, mas construir um futuro diferente ?

Que cada um chegue às próprias conclusões.


Uma coisa é certa: a cidade precisa e merece dias melhores. Para sempre.

Se você quiser saber, com detalhes, a história dos partidos Veado e Caranguejo, conheça o livro:
http://terradeandre.blogspot.com.br/2017/02/livro-andrelandia-3500-anos-de-historia.html