A rivalidade entre o
partido dos "Veados" e dos "Caranguejos" em Andrelândia
remonta ao século XIX e talvez seja um dos mais acirrados, pitorescos e
duradouros embates políticos de Minas Gerais e do Brasil.
Coisa digna de novela, com direito a cenas épicas, como a fuga de um casal de jovens apaixonados, na década de 1930, que não podiam se casar porque os pais eram inimigos políticos...
Questões de gênero, biológicas e politicamente corretas à parte, em Andrelândia diz-se que há veado macho e caranguejo que não dá ré...
Coisas do Turvo, que merecem ser melhor estudadas e compreendidas.
Coisa digna de novela, com direito a cenas épicas, como a fuga de um casal de jovens apaixonados, na década de 1930, que não podiam se casar porque os pais eram inimigos políticos...
Questões de gênero, biológicas e politicamente corretas à parte, em Andrelândia diz-se que há veado macho e caranguejo que não dá ré...
Coisas do Turvo, que merecem ser melhor estudadas e compreendidas.
Andrelândia, onde os grupos
políticos dos 'veados' e dos 'caranguejos' dão as cartas.
RENATO GRANDELLE
ANDRELÂNDIA - Entre a Serra da
Mantiqueira e a depressão do Rio Aiuruoca esconde-se Andrelândia, reduto
mineiro inalcançável para os hábitos de metrópole ou as complexas siglas
partidárias. Seus 12 mil habitantes não enxergam tucanos ou estrelas petistas no
céu, menos ainda nas urnas. A fauna política local é regida por
"caranguejos" e "veados", facções que se revezam no poder e
figuram em folclóricas tramas de segregações, casamentos polêmicos e até ruas
de calçamento inacabado.
Há algo de conspiratório no reino
de cervídeos e crustáceos; ambos respondem em uníssono quando questionados
sobre a divisão política da cidade. O discurso oficial é que o controverso
bipartidarismo empacou Andrelândia, que só recentemente experimentou algum
desenvolvimento.
O Estado de Minas também já dedicou página inteira sobre o assunto no Caderno de Política.
A origem dessa divisão está intimamente relacionada a dois grandes vultos de nossa história: Coronel José Bonifácio de Azevedo, por um lado, e Visconde de Arantes, por outro.
Foi por volta de 1830 que veio se
estabelecer no Turvo a família de Antônio Belfort de Arantes, pai de Antônio
Belfort Ribeiro de Arantes, mais tarde o Visconde de Arantes. Antônio Belfort
de Arantes, logo que chegou ao Turvo colocou-se à frente dos assuntos
pertinentes ao Arraial, que ainda não possuía independência administrativa,
comandando-o inclusive como representante na Câmara Municipal de
Aiuruoca. Participou ativamente das
Revoluções de 1833 e 1842, como declarado Liberal.
A criação da Vila Bela do Turvo em 1864
e a sua instalação em 1866 decorreu, em grande parte, da atuação e da força
econômica e política da família Arantes, que inclusive patrocinou a construção
da sede da Câmara e Cadeia.
Instalada a Câmara, durante muitos anos
membros da família Arantes, ou pessoas intimamente ligadas a ela, ocuparam a
presidência da Câmara Municipal da Cidade do Turvo, em um sistema de compadrio evidente.
O Visconde de Arantes, como chefe do partido, era o comandante absoluto e
incontestável do Turvo e contava com o apoio da quase totalidade de
seu eleitorado.
Contudo, no ano de 1887, surgiram
contrariando a indicação sempre respeitada do Visconde de Arantes, apoiando o
nome de Cesário Alvim na eleição senatorial, os sete primeiros insurretos.
Estes, que receberam do próprio Visconde de Arantes o apelido coletivo de
"Os sete pecados mortais", foram: José Bonifácio de Azevedo, José
Ribeiro Salgado Júnior, Francisco Silva Vilela, Antonino Pereira Gustavo,
Francisco Nogueira, Manoel Gonçalves de Alcântara e Sebastião José de Paula.
Embora poucos, eles deram o impulso inicial a um movimento que viria ganhar
força e remodelar a política municipal.
O Coronel José Bonifácio de Azevedo
assumiu a liderança do movimento revoltoso e saiu em peregrinação pelo
município do Turvo aliciando fazendeiros, intelectuais, militares e gente do
povo para a fundação de um Partido com que se enfrentasse o potentado titular
do Império.
Fundado o partido liderado pelo Coronel
José Bonifácio com o nome de Partido Republicano do Turvo (PRT), na primeira
eleição disputada apareceram contra o Visconde não apenas os sete primeiros
insurgentes, mas centenas de eleitores, que, no entanto, não foram suficientes
para derrotá-lo.
Em 1894, após muito trabalho por parte
do PRT, conseguiu-se, finalmente, bater nas urnas a forte política do Visconde
de Arantes. Este, porém, inconformado com a derrota, tomou asilo na Fazenda
Paraíba, juntamente com os maiorais de seu partido, levando também os arquivos
da Câmara Municipal, com o propósito de não dar posse à Câmara recém-eleita.
Quase se deu uma hecatombe...
A partir de então, surgiram as alcunhas
que nomearam "Veados" os adeptos do PRT e "Caranguejos" os
correligionários do Visconde de Arantes.
A explicação para as designações é a
seguinte: vimos que o Visconde de Arantes foi por muito tempo o chefe absoluto
e incontestável do Turvo, contando com a quase totalidade de
seu eleitorado. Em 1887 surgem os primeiros rebeldes; a primeira subtração
significativa em seus votos. Em 1890 aparecem contra o Visconde centenas de
votos; a segunda e mais significativa subtração. Em 1894, os adeptos do PRT
superaram em número os adeptos do Partido do Visconde.
A tradição diz que um dos maiorais da facção do Visconde, inconformado com esta derrota, fez em público a seguinte observação: "Não é possível nossos votos terem diminuído tanto! Andamos para trás! Parecemos Caranguejos!". Este fato foi glosado com humor nos jornais da época, de franco espírito satírico.
A tradição diz que um dos maiorais da facção do Visconde, inconformado com esta derrota, fez em público a seguinte observação: "Não é possível nossos votos terem diminuído tanto! Andamos para trás! Parecemos Caranguejos!". Este fato foi glosado com humor nos jornais da época, de franco espírito satírico.
Por outro lado, os membros do PRT
comemoravam euforicamente a votação maciça que conseguiram obter. Um verdadeiro
pulo, como dá o veado, veloz cervídeo, quando está sendo perseguido.
Durante muito tempo, embora existissem
no município inúmeros partidos políticos de siglas imponentes, nas eleições
municipais eles sempre formavam irredutivelmente dois blocos coesos e
antagônicos: o dos "veados" e o dos "caranguejos", que se
rivalizavam de maneira implacável.
Esta, a história.
Que todo Andrelandense possa refletir
sobre a conveniência e a necessidade da manutenção desse sectarismo secular.
Não seria o momento de conhecer o
passado, mas construir um futuro diferente ?
Que cada um chegue às próprias conclusões.
Que cada um chegue às próprias conclusões.
Uma coisa é certa: a cidade precisa e
merece dias melhores. Para sempre.
Se você quiser saber, com detalhes, a história dos partidos Veado e Caranguejo, conheça o livro:
http://terradeandre.blogspot.com.br/2017/02/livro-andrelandia-3500-anos-de-historia.html
Se você quiser saber, com detalhes, a história dos partidos Veado e Caranguejo, conheça o livro:
http://terradeandre.blogspot.com.br/2017/02/livro-andrelandia-3500-anos-de-historia.html
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