Durante a minha juventude em Andrelândia, conheci e mantive contato com muitos
personagens populares interessantíssimos, de quem guardo saudosa lembrança.
Um dos quais me recordo em razão de suas composições musicais hilárias e
irreverentes, sempre cantadas ao som de violão pelos botecos da cidade, é o Darci da
Periquita, que estava para Andrelândia na década de 1980 assim como Raul Seixas estava
para o Brasil.
Era o nosso “maluco beleza”.
Magro, alto, tez clara, Darci Miranda – esse era seu verdadeiro nome - veio ao
mundo na vizinha cidade de Baependi em 22 de janeiro de 1945, filho de Dona Clélia
Miranda, nascida em Varginha aos 27 de setembro de 1916 e falecida em Andrelândia em
06 de novembro de 2006.
Dona Clélia, uma senhora muito gentil que lia mãos e cartas de Tarot, era apelidada
Periquita, de onde surgiu a designação popular de seu filho artista: Darci da Periquita,
exímio tocador de violão, que ensinou muitos andrelandenses a arte da música.
Mas, para além de cantar, Darci também compunha letras e fazia paródias que eram
conhecidas por boa parte dos moradores de Andrelândia.
Lembro-me bem de uma paródia baseada na famosa canção Lady Laura, do Rei
Roberto Carlos, em que Darci da Periquita homenageou o Tião da Laura, dono de um dos
botecos mais tradicionais da cidade, cuja estrofe principal era a seguinte:
Tião de Laura,
me leva pra casa, Tião de Laura,
me dá uma pinga, Tião de Laura,
me faça um carinho, Tião de Laura !
Tião de Laura,
me leva pra casa, Tião de Laura,
me bota na cama, Tião de Laura,
me faça dormir, Tião de Laura !
Fã de Raul Seixas, Darci da Periquita compôs letras psicodélicas, inspirado por
generosas doses de cachaça sorvidas calmamente nos bares de Andrelândia, onde sempre
era recebido com bom humor pelos donos e frequentadores, que com ele se divertiam
cantando as canções mais satíricas e inusitadas da cidade.
Tive a felicidade de ganhar de presente uma letra inédita de Darci, escrita de
próprio punho em uma folha de caderno ao final por ele assinada, documento que guardo
com muito carinho.
Vejamo-la:
Memórias de um louco
Era meia noite
O sol brilhava no horizonte
A lua redonda igual a um quiabo
Eu sentado no meu banco de madeira
todo feito de pedras
Apreciando as plantações de bacalhau
Atrás de mim um jacaré voava em grande velocidade
Um preto de cabelos louros dizia que o mundo é uma bola quadrada
Que gira em torno de si mesma
Um cego lendo um jornal sem letras de cabeça para baixo
Enquanto os pássaros pastavam
As vacas saltavam de galho em a galho
À procura de seus ninhos.
Era uma vez uma pobre mulher muito rica
Vivia de seu trabalho sem fazer nada
Um dia ela sentiu-se muito doente
Porém bem de saúde saiu para buscar uma peneira d`água em um córrego seco
Chegando lá encontrou uma cobra chorando igual a uma criança de 48 anos
De tanta tristeza pegou a cobra e mordeu
Veja só o destino da pobre cobra que morreu.
O artista Darci da Periquita teve uma passagem meteórica pela Terra e, antes de
completar cinquenta anos de idade, partiu para alegrar outras paragens.
Faleceu em Juiz de Fora em setembro de 1993, sendo sepultado no cemitério de
Andrelândia, terra que ele acolheu como sua.
Ao saudoso Darci, o nosso reconhecimento, as nossas palmas e o nosso eterno
agradecimento por ter tornado a vida de tantos andrelandenses mais leve e alegre.
Darci da Periquita, FOREVER !
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