A recente
pandemia de Coronavírus que assola o nosso planeta mudou radicalmente a rotina
da maior parte da população, que se vê
obrigada a se recolher aos seus lares para evitar o contágio e as consequências
da temida doença, que vem matando milhares de pessoas todos os dias.
Ao senso
comum tal situação pode ser considerada como inédita, momento de medo,
incertezas, dor e sofrimento experimentada pioneiramente pela nossa geração.
Nada mais
errado.
Vítima da Varíola
As pragas, pestes e doenças sempre estiveram presentes na história da humanidade, sendo inúmeras, por exemplo, as passagens bíblicas que tratam do assunto.
A velha
Andrelândia, onde o colonizador europeu chegou há mais de 250 anos, já passou
por momentos muitos difíceis em razão de epidemias que grassaram em Minas
Gerais ao longo dos séculos, incluindo cólera morbus, influenza, coqueluche, catapora, tuberculose, sarampo,
varíola, gripe espanhola, entre outras.
Contudo, a
mais grave e mortífera epidemia que atingiu nossa cidade, de acordo com os
documentos que encontramos, foi a temível crise de varíola que aqui chegou no
segundo semestre do ano de 1891.
Para
contextualizar, vale lembrar que o Brasil vivia seu segundo ano de República, a
escravidão havia sido abolida há apenas três anos, a Cidade do Turvo (nome de
então de Andrelândia) era governada pelo Visconde de Arantes e tínhamos um
único médico na cidade: o Dr. Ernesto da Silva Braga, que também era
encarregado de promover a vacinação pública.
Dr. Ernesto da Silva Braga - médico responsável pelo combate à varíola na cidade.
A vacinação ocorria na Praça Visconde de Arantes, atual sede da
Promotoria de Justiça de Andrelândia
A peste da
varíola, também conhecida, naquela época, pelo nome de “bexiga” em razão das
bolhas (pústulas) que se formavam no corpo das vítimas, vinha provocando mortes
em várias partes do país naquela época e no dia 15 de novembro de 1891 o jornal
local “A Cidade do Turvo” noticiou:
Lamentavelmente,
ao contrário dos prognósticos aventados na matéria, a doença logo se espalhou
pelo Município, contaminando centenas de pessoas, sobretudo na zona rural,
ceifando as vidas de dezenas de turvenses.
Notícia
do jornal “O Amigo do Povo”. Turvo, 22 de novembro de 1891
Em razão da
doença ser altamente contagiosa, recomendava-se que as roupas das vítimas fossem
queimadas e as habitações desinfetadas com queima de enxofre, água com cinza e caiação.
O padre Francisco Severo Malachias percorreu a cidade em procissão levando a imagem do Senhor dos Passos, pedindo proteção contra a varíola em 1891.
Como muitos
turvenses morreram em locais distantes da cidade, o medo da contaminação não
permitiu sequer que os corpos fossem levados ao cemitério público, sendo improvisados cemitérios em campos ermos da própria zona rural, que ficaram conhecidos
como “Cemitérios dos Bexiguentos”, por servirem de local de descanso aos corpos
das vítimas da varíola, popularmente conhecida como “bexiga”, como já
explicamos.
Nos dias de
hoje ainda existem dois desses cemitérios em nossa cidade, sendo um localizado na Cachoeira das
Marias e outro no Espraiado. São eles as
últimas (e pouco conhecidas) testemunhas da terrível peste que assolou Andrelândia no ano de 1891.
Como
resultado positivo da epidemia, no ano seguinte a população turvense aumentou
consideravelmente as medidas de prevenção, incluindo maior higiene das
residências e adesão às campanhas oficiais de vacinação, o que diminuiu
enormemente a doença em nossa cidade, que superou com coragem e determinação
aqueles momentos de provação.
Esperamos
que o conhecimento desses fatos nos sirva de alento para enfrentarmos com fé e
esperança os desafios que ora se apresentam e que, certamente, nos deixarão mais fortes, fraternos e unidos.
Tudo tem seu tempo.
Isso também
passará.