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segunda-feira, 30 de março de 2020

A TERRÍVEL EPIDEMIA DE VARÍOLA EM ANDRELÂNDIA NO SÉCULO XIX




A recente pandemia de Coronavírus que assola o nosso planeta mudou radicalmente a rotina da maior parte da população,  que se vê obrigada a se recolher aos seus lares para evitar o contágio e as consequências da temida doença, que vem matando milhares de pessoas todos os dias.


Ao senso comum tal situação pode ser considerada como inédita, momento de medo, incertezas, dor e sofrimento experimentada pioneiramente pela nossa geração.


Nada mais errado.



 Vítima da Varíola

  
As pragas, pestes e doenças sempre estiveram presentes na história da humanidade, sendo inúmeras, por exemplo, as passagens bíblicas que tratam do assunto.


A velha Andrelândia, onde o colonizador europeu chegou há mais de 250 anos, já passou por momentos muitos difíceis em razão de epidemias que grassaram em Minas Gerais ao longo dos séculos, incluindo cólera morbus, influenza, coqueluche, catapora, tuberculose, sarampo, varíola, gripe espanhola, entre outras.


Contudo, a mais grave e mortífera epidemia que atingiu nossa cidade, de acordo com os documentos que encontramos, foi a temível crise de varíola que aqui chegou no segundo semestre do ano de 1891.



Para contextualizar, vale lembrar que o Brasil vivia seu segundo ano de República, a escravidão havia sido abolida há apenas três anos, a Cidade do Turvo (nome de então de Andrelândia) era governada pelo Visconde de Arantes e tínhamos um único médico na cidade: o Dr. Ernesto da Silva Braga, que também era encarregado de promover a vacinação pública.



  Dr. Ernesto da Silva Braga - médico responsável pelo combate à varíola na cidade.
A vacinação ocorria na Praça Visconde de Arantes, atual sede da 
Promotoria de Justiça de Andrelândia

A peste da varíola, também conhecida, naquela época, pelo nome de “bexiga” em razão das bolhas (pústulas) que se formavam no corpo das vítimas, vinha provocando mortes em várias partes do país naquela época e no dia 15 de novembro de 1891 o jornal local “A Cidade do Turvo” noticiou:

 

Lamentavelmente, ao contrário dos prognósticos aventados na matéria, a doença logo se espalhou pelo Município, contaminando centenas de pessoas, sobretudo na zona rural, ceifando as vidas de dezenas de turvenses.
 
Notícia do jornal “O Amigo do Povo”. Turvo, 22 de novembro de 1891


Em razão da doença ser altamente contagiosa, recomendava-se que as roupas das vítimas fossem queimadas e as habitações desinfetadas com queima de enxofre, água com cinza e caiação.

O padre Francisco Severo Malachias percorreu a cidade em procissão levando a imagem do Senhor dos Passos, pedindo proteção contra a varíola em 1891.






Como muitos turvenses morreram em locais distantes da cidade, o medo da contaminação não permitiu sequer que os corpos fossem levados ao cemitério público, sendo improvisados cemitérios  em campos ermos da própria zona rural, que ficaram conhecidos como “Cemitérios dos Bexiguentos”, por servirem de local de descanso aos corpos das vítimas da varíola, popularmente conhecida como “bexiga”, como já explicamos.


Nos dias de hoje ainda existem dois desses cemitérios em nossa cidade, sendo um localizado na Cachoeira das Marias e outro no Espraiado.  São eles as últimas (e pouco conhecidas) testemunhas da terrível  peste que assolou Andrelândia no ano de 1891.


Como resultado positivo da epidemia, no ano seguinte a população turvense aumentou consideravelmente as medidas de prevenção, incluindo maior higiene das residências e adesão às campanhas oficiais de vacinação, o que diminuiu enormemente a doença em nossa cidade, que superou com coragem e determinação aqueles momentos de provação.


Esperamos que o conhecimento desses fatos nos sirva de alento para enfrentarmos com fé e esperança os desafios que ora se apresentam e que, certamente, nos deixarão mais fortes, fraternos e unidos.

Tudo tem seu tempo. 

Isso também passará.

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