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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Rio Turvo que te quero vivo !

Rio Turvo que te quero vivo !

                Há quase trezentos anos os primeiros desbravadores paulistas que chegaram à região de Andrelândia (provavelmente na época das chuvas), se depararam com um rio largo e de águas barrentas, que logo foi denominado de Turvo.
                Continuando a jornada, duas léguas adiante, outro rio, um pouco menor mas de águas igualmente barrentas foi encontrado, sendo em seguida batizado como Turvo Pequeno.
                Esses cursos d’água (que nascem na Serra da Mantiqueira e deságuam no Rio Aiuruoca) emprestaram  suas designações à toda região hoje compreendida pelo Município de Andrelândia, que, aliás, chamou-se Cidade do Turvo até o ano de 1930.
                Segundo o Atlas para Conservação da Biodiversidade em Minas Gerais, organizado pela  Fundação Biodiversitas, a região do Alto Rio Grande, onde nos encontramos,  é considerada como prioritária para a preservação de peixes. A  bacia o Alto Rio Grande, por sua importância, é também considerada como  de Preservação Permanente pela Lei Estadual 15.082/2004.
                Apesar de toda essa relevância, o Rio Turvo Pequeno agoniza.
                Suas margens perderam a vegetação ciliar protetora. Sua calha tornou-se coletora do esgoto - sem tratamento -  das cidades de Arantina e Andrelândia. A COPASA, que retira água do rio para o abastecimento das populações dessas cidades, nada investe na preservação do corpo hídrico, violando a Lei Estadual 12.503/97, que determina o investimento de 0,5 % do seu faturamento na proteção da bacia hidrográfica explorada.
                Os peixes de outrora sumiram e as crianças não podem mais brincar em suas águas.
                Em Andrelândia, o Parque Manuel Caetano da Costa, criado por Lei Municipal de 2007 e que deveria ser um centro difusor da proteção do Rio Turvo e de ações de educação ambiental, até agora não saiu do papel.
                Cuidar do meio ambiente é um dever da sociedade e do poder público em razão, sobretudo, do dever ético e moral para com os direitos das gerações que ainda estão por nascer.
                A população precisa se organizar, agir, fazer sua parte e cobrar providências dos órgãos competentes.
                Salvemos o Rio Turvo Pequeno !
                Divulgue essa mensagem. Participe desse movimento.

SAINT HILAIRE EM ANDRELÂNDIA

Eureste Turvense

Montado em lombo de burro,
Cruzando montanhas e matas,
Colhendo plantas e bichos,
Lá vai o sábio francês.

O mar já fica pra trás.
As serras se avolumam à frente.
O tempo caminha, não corre.
E tudo é novo no horizonte.

As Minas chegam, enfim.
O Caminho do Comércio é o rumo seguido.
O vale do Rio Preto  se revela, sem medo.
E passa a morar em um caderno francês.

 O índio Firmiano é o guia da tropa.
Um rancho tão rude é  lar sob a lua.
As canastras se enchem dia após dia.
Dobra-se a Serra e o Rio Grande se mostra.

O Arraial do Turvo já fica à esquerda.
O sol se despede e a tropa descansa.
Hospeda-se o sábio em quarto tranqüilo.
De uma fazenda Laranjeiras chamada.

A marcha recomeça ao canto do galo.
Dois picos despontam idênticos à frente.
E plantas floridas se escondem quietinhas.
No interior de um livro escrito em francês.

A Fazenda do Sardinha é a nova parada.
São João Del  Rei não tarda a chegar.
Os badalos dos sinos tocam tristonhos.
E Pregént  se une de vez às Gerais.

Que homem de fibra é esse sábio botânico !
Desbrava sertões e arrosta perigos.
 Tudo anota com letrinha miúda.
E divulga o Brasil em latim para o Mundo.

200 anos se passam, mas  a história não se esquece.
Daquele que aqui  veio e tudo anotou.
Daquele valente de nome estranho.
 Auguste de Saint-Hilaire é seu nome, anotem.

O sábio francês Auguste de Saint-Hilaire  nasceu em Orleáns em 04 de outubro de 1779 e ainda bem enveredou para o estudo das ciências naturais.  Dominando bem várias línguas, entre as quais o latim, o inglês e o alemão,  foi um dos primeiros cientistas europeus a percorrer o território do Brasil, onde permaneceu entre 1816 e 1822.  Homem de grande fibra e  notável persistência,  viajou pelas Províncias do Espírito Santo, Goiás,  Minas Gerais, Rio de Janeiro,  Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e  São Paulo. Ao longo de suas extensas e demoradas viagens em território brasileiro colecionou, classificou e estudou grande quantidade de plantas e animais, além de coligir e registrar dados de extrema relevância para a  Etnografia, Geologia, Geografia, História e Sociologia de nosso país.  Foi professor da Faculdade de Ciências de Paris, membro das Academias de Berlim, S. Petersburgo, Lisboa, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, das Sociedades de História Natural de Boston, de Genebra, de Botênica de Edimburgo, Médica do Rio de Janeiro, das Ciências de Orléans, dentre outras instituições de pesquisa. Faleceu em 30 de sEtembro de 1853 nos arredores do castelo de La Turpinière.
“Mas aquelas belas regiões desérticas contém os germes de uma grande prosperidade. Tempo virá em que cidades florescentes substituirão as miseráveis choupanas que mal me serviam de abrigo... Se alguns exemplares dos meus relatos resistirem ao tempo e ao esquecimento, as gerações futuras talvez encontrem neles informações de grande interesse sobre essas vastas províncias, provavelmente transformadas, então, em verdadeiros impérios... ficarão surpreendidas ao verificarem que, nos locais onde se erguerão então cidades prósperas e populosas, havia outrora apenas um ou dois casebres que pouco diferiam das choças dos selvagens; que onde estarão retinindo nos ares os ruídos dos martelos e das máquinas mais complexas ouviam-se apenas, em outros tempos, o coaxar de alguns sapos e o canto dos pássaros” (Auguste Saint-Hilaire - prefácio de "Viagem à Província de Goiás", 1847)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O URBANISMO EM ANDRELÂNDIA NO SÉC. XVIII

O URBANISMO EM ANDRELÂNDIA NO SÉC. XVIII

Marcos Paulo de Souza Miranda

Fato que invariavelmente chama a atenção dos visitantes mais atenciosos que chegam a Andrelândia é o da existência de uma arquitetura colonial rica e, paradoxalmente, distribuída de forma organizada, na ampla e bem projetada Avenida Nossa Senhora do Porto (outrora denominada Getúlio Vargas, Minas Gerais, Rua Direita) que delimita o principal núcleo urbano  histórico da cidade.
Com efeito, a grande maioria das pessoas sempre que ouve falar em arquitetura colonial, instantaneamente imaginam cidades como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes etc., com seus velhos casarões espremidos em  vielas íngremes e sinuosas, demonstrando claramente que surgiram ao acaso,  sem qualquer planejamento.
Andrelândia, cujo nascimento se deu ao redor da capela dedicada a Nossa Senhora do Porto, construída a pedido de André da Silveira no ano de 1752,  é exceção à regra colonial no que tange ao urbanismo. A disposição dos velhos casarões que se colocam próximos à Igreja Matriz - o embrião formador da cidade - não deixa dúvida quanto à existência de um planejamento urbanístico muito bem executado ainda no séc. XVIII, quando algumas delas foram construídas.
O surgimento do núcleo urbano que originou Andrelândia foi extremamente rápido. Apenas dois anos depois de construída (em local até então despovoado) a Capela de Nossa Senhora do Porto, o que se deu em 1755, já se falava em Arraial do Turvo, demonstrando cabalmente que o aglomeramento de casas em torno da pequena igreja ganhava importância, vez que já merecia tal denominação.
Não resta dúvida, a nosso ver, que  durante esses primeiros anos de povoamento já existia um planejamento para a disposição das construções. E, como todo o terreno em torno da capela pertencia à igreja, a esta cabia a tarefa de distribuir os lotes, dispondo sobre a localização das casas que rapidamente eram levantadas por fazendeiros e mineradores da região. Temos em mãos dois documentos datados de 1757, em que a igreja doa lotes  de treze braças cada um a João Francisco Braga e Manuel Antunes Cartaxo, para que pudessem construir suas casas nas proximidades da capela. Assina os referidos documentos como doador o Pe. Carlos Ribeiro da Fonseca, que  exerceu seu ministério no Turvo entre os anos de 1756-1760 - época de florescência do arraial.
No nosso entendimento, foi o Pe. Carlos Ribeiro da Fonseca o responsável pelo traçado original do centro histórico andrelandense, pois ao mesmo cometia a atribuição de distribuir os terrenos da igreja aos interessados em construir suas moradias.
Homem de cultura, nascido por volta de 1733 na Freguesia de Santa Marinha, pertencente ao Bispado do Porto, em Portugal, é provável que   Pe. Carlos, sacerdote do hábito de São Pedro, tivesse realmente conhecimentos na área de urbanismo, ou, pelo menos, ciência de que sob sua responsabilidade brotava, à sombra da cruz, mais uma cidade naqueles rincões da então Capitania das Minas Gerais. Não vislumbramos outra explicação para o fato.
Maiores estudos merece a questão, que tem sido objeto constante de nossas pesquisas históricas.  Se  confirmadas  essas especulações iniciais, constatar-se-á em Andrelândia a veracidade da afirmação feita por Descartes em seu Discurso Sobre o Método: “freqüentes vezes, não se acha tanta perfeição nas obras realizadas com muitas peças e compostas pelas mãos de diferentes mestres, como nas que apenas um trabalhou.” 

HINO DO CENTENÁRIO DE ANDRELÂNDIA

Hino do Centenário de Andrelândia

Letra: Francisco Pascoal de Araújo
Música: Nair Rezende de Araújo
Para o alto, para o alto,
para o alto é nosso lema,
para o alto, meu torrão;
quero, então, na hora extrema,
aqui deixar meu coração.
André Silveira, o pioneiro,
atravessou o rio que rumoreja.
Parou no alto deste outeiro
e aqui plantou sua igreja.
Não ficou por muito tempo
nosso templo solitário,
foram então tomando as casas
o formato de um rosário.
Velho Turvo, velho Turvo,
foste tu nosso prefácio;
velhos vultos, grandes vultos,
do Visconde a Bonifácio.
Andrelândia, hoje surges delirante
dentro do meu coração
como jóia radiante
incrustada neste rincão.
Andrelândia centenária,
para o alto eu te peço,
segue a senda solitária
da harmonia e do progresso.
Nossa mão que é suave
é o lema desta nave
e vai com o santo rosto ameno
levá-la ao porto sereno
da eterna salvação!

Descrição da Matriz do Arraial do Turvo

JULHO DE 1824 – Descrição da Matriz do Arraial do Turvo feita por Dom  Frei José da Santíssima Trindade, Bispo de Mariana, por ocasião de visita pastoral  à Freguesia de Aiuruoca.

A capela de Nossa Senhora da conceição do Porto da salvação do Turvo, curada e filial de Aiuruoca, distante da de Santana do Garambéu da freguesia de Ibitipoca 5 léguas e meia, com 3.000 almas aplicadas (suposto que no mapa de 19 de julho de 1822 dava-lhe 2.592). Esta capela é toda de pedra, com bom adro fechado. Está em um agradável arraial entre o rio Turvo Pequeno, que lhe passa em muito pequena distância, e por trás da mesma capela,  a meia légua passa-lhe o rio Turvo Grande. É a capela muito capaz para uma nova freguesia. Tem 5 altares com seus retábulos pintados e dourados, acha-se toda forrada por cima e pintada na capela-mor, porém não o corpo da capela, está toda campada e tem decente sacristia com ornamentos novos para as quatro cores, que lhe deu o pároco da freguesia de esmola para servirem no diário. Tem 3 cálices dourados, pia batismal de pedra, porém os vasos dos santos óleos de chumbo ou estanho fino, que ficaram os zeladores advertidos para mandarem fazer de prata.