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sábado, 19 de fevereiro de 2011

SAINT HILAIRE EM ANDRELÂNDIA

Eureste Turvense

Montado em lombo de burro,
Cruzando montanhas e matas,
Colhendo plantas e bichos,
Lá vai o sábio francês.

O mar já fica pra trás.
As serras se avolumam à frente.
O tempo caminha, não corre.
E tudo é novo no horizonte.

As Minas chegam, enfim.
O Caminho do Comércio é o rumo seguido.
O vale do Rio Preto  se revela, sem medo.
E passa a morar em um caderno francês.

 O índio Firmiano é o guia da tropa.
Um rancho tão rude é  lar sob a lua.
As canastras se enchem dia após dia.
Dobra-se a Serra e o Rio Grande se mostra.

O Arraial do Turvo já fica à esquerda.
O sol se despede e a tropa descansa.
Hospeda-se o sábio em quarto tranqüilo.
De uma fazenda Laranjeiras chamada.

A marcha recomeça ao canto do galo.
Dois picos despontam idênticos à frente.
E plantas floridas se escondem quietinhas.
No interior de um livro escrito em francês.

A Fazenda do Sardinha é a nova parada.
São João Del  Rei não tarda a chegar.
Os badalos dos sinos tocam tristonhos.
E Pregént  se une de vez às Gerais.

Que homem de fibra é esse sábio botânico !
Desbrava sertões e arrosta perigos.
 Tudo anota com letrinha miúda.
E divulga o Brasil em latim para o Mundo.

200 anos se passam, mas  a história não se esquece.
Daquele que aqui  veio e tudo anotou.
Daquele valente de nome estranho.
 Auguste de Saint-Hilaire é seu nome, anotem.

O sábio francês Auguste de Saint-Hilaire  nasceu em Orleáns em 04 de outubro de 1779 e ainda bem enveredou para o estudo das ciências naturais.  Dominando bem várias línguas, entre as quais o latim, o inglês e o alemão,  foi um dos primeiros cientistas europeus a percorrer o território do Brasil, onde permaneceu entre 1816 e 1822.  Homem de grande fibra e  notável persistência,  viajou pelas Províncias do Espírito Santo, Goiás,  Minas Gerais, Rio de Janeiro,  Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e  São Paulo. Ao longo de suas extensas e demoradas viagens em território brasileiro colecionou, classificou e estudou grande quantidade de plantas e animais, além de coligir e registrar dados de extrema relevância para a  Etnografia, Geologia, Geografia, História e Sociologia de nosso país.  Foi professor da Faculdade de Ciências de Paris, membro das Academias de Berlim, S. Petersburgo, Lisboa, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, das Sociedades de História Natural de Boston, de Genebra, de Botênica de Edimburgo, Médica do Rio de Janeiro, das Ciências de Orléans, dentre outras instituições de pesquisa. Faleceu em 30 de sEtembro de 1853 nos arredores do castelo de La Turpinière.
“Mas aquelas belas regiões desérticas contém os germes de uma grande prosperidade. Tempo virá em que cidades florescentes substituirão as miseráveis choupanas que mal me serviam de abrigo... Se alguns exemplares dos meus relatos resistirem ao tempo e ao esquecimento, as gerações futuras talvez encontrem neles informações de grande interesse sobre essas vastas províncias, provavelmente transformadas, então, em verdadeiros impérios... ficarão surpreendidas ao verificarem que, nos locais onde se erguerão então cidades prósperas e populosas, havia outrora apenas um ou dois casebres que pouco diferiam das choças dos selvagens; que onde estarão retinindo nos ares os ruídos dos martelos e das máquinas mais complexas ouviam-se apenas, em outros tempos, o coaxar de alguns sapos e o canto dos pássaros” (Auguste Saint-Hilaire - prefácio de "Viagem à Província de Goiás", 1847)

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