O URBANISMO EM ANDRELÂNDIA NO SÉC. XVIII
Marcos Paulo de Souza Miranda
Fato que invariavelmente chama a atenção dos visitantes mais atenciosos que chegam a Andrelândia é o da existência de uma arquitetura colonial rica e, paradoxalmente, distribuída de forma organizada, na ampla e bem projetada Avenida Nossa Senhora do Porto (outrora denominada Getúlio Vargas, Minas Gerais, Rua Direita) que delimita o principal núcleo urbano histórico da cidade.
Com efeito, a grande maioria das pessoas sempre que ouve falar em arquitetura colonial, instantaneamente imaginam cidades como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes etc., com seus velhos casarões espremidos em vielas íngremes e sinuosas, demonstrando claramente que surgiram ao acaso, sem qualquer planejamento.
Andrelândia, cujo nascimento se deu ao redor da capela dedicada a Nossa Senhora do Porto, construída a pedido de André da Silveira no ano de 1752, é exceção à regra colonial no que tange ao urbanismo. A disposição dos velhos casarões que se colocam próximos à Igreja Matriz - o embrião formador da cidade - não deixa dúvida quanto à existência de um planejamento urbanístico muito bem executado ainda no séc. XVIII, quando algumas delas foram construídas.
O surgimento do núcleo urbano que originou Andrelândia foi extremamente rápido. Apenas dois anos depois de construída (em local até então despovoado) a Capela de Nossa Senhora do Porto, o que se deu em 1755, já se falava em Arraial do Turvo, demonstrando cabalmente que o aglomeramento de casas em torno da pequena igreja ganhava importância, vez que já merecia tal denominação.
Não resta dúvida, a nosso ver, que durante esses primeiros anos de povoamento já existia um planejamento para a disposição das construções. E, como todo o terreno em torno da capela pertencia à igreja, a esta cabia a tarefa de distribuir os lotes, dispondo sobre a localização das casas que rapidamente eram levantadas por fazendeiros e mineradores da região. Temos em mãos dois documentos datados de 1757, em que a igreja doa lotes de treze braças cada um a João Francisco Braga e Manuel Antunes Cartaxo, para que pudessem construir suas casas nas proximidades da capela. Assina os referidos documentos como doador o Pe. Carlos Ribeiro da Fonseca, que exerceu seu ministério no Turvo entre os anos de 1756-1760 - época de florescência do arraial.
No nosso entendimento, foi o Pe. Carlos Ribeiro da Fonseca o responsável pelo traçado original do centro histórico andrelandense, pois ao mesmo cometia a atribuição de distribuir os terrenos da igreja aos interessados em construir suas moradias.
Homem de cultura, nascido por volta de 1733 na Freguesia de Santa Marinha, pertencente ao Bispado do Porto, em Portugal, é provável que Pe. Carlos, sacerdote do hábito de São Pedro, tivesse realmente conhecimentos na área de urbanismo, ou, pelo menos, ciência de que sob sua responsabilidade brotava, à sombra da cruz, mais uma cidade naqueles rincões da então Capitania das Minas Gerais. Não vislumbramos outra explicação para o fato.
Maiores estudos merece a questão, que tem sido objeto constante de nossas pesquisas históricas. Se confirmadas essas especulações iniciais, constatar-se-á em Andrelândia a veracidade da afirmação feita por Descartes em seu Discurso Sobre o Método: “freqüentes vezes, não se acha tanta perfeição nas obras realizadas com muitas peças e compostas pelas mãos de diferentes mestres, como nas que apenas um trabalhou.”
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