Andrelândia
tem a dádiva de ter como sua padroeira Maria, a santíssima mãe de Nosso Senhor
Jesus Cristo, pela milagrosa invocação de Nossa Senhora do Porto da Eterna
Salvação.
Padroeira de Andrelândia
A
escolha da invocação se deu pelos primeiros povoadores da região do Rio Turvo,
então pertencente à Freguesia de Aiuruoca, nos albores da década de 1750,
quando tramitava no Bispado de Mariana o pedido de licença para a edificação da
capela que viria a se tornar o embrião do futuro Arraial do Turvo, hoje cidade
de Andrelândia.
Não
se sabe ao certo de quem partiu a iniciativa de se escolher a invocação, mas
provavelmente se deveu a algum português natural da cidade do Porto, cuja padroeira é a mesma. Era comum, naqueles
tempos, que os desbravadores trouxessem junto consigo, para protege-los da
perigosa travessia do Atlântico e para abençoá-los nas Minas, a imagem do santo
de sua devoção, normalmente feita de madeira e de pequenas dimensões.
Padroeira da cidade do Porto
Quanto
à origem da invocação, a cidade do Porto estava totalmente dominada pelos
Mouros, quando por volta do ano 990 uma forte armada liderada pelo nobre
português Dom Munio de Viegas, começou a enfrentar os dominadores infiéis com o
intuito de expulsa-los da Península Ibérica. A armada contava com cavaleiros
originários da Gasconha (região da França) e com o acompanhamento do Bispo Dom
Nonego, da cidade francesa de Vêndome, que levava consigo uma imagem da Nossa
Senhora de Vândoma, que era a padroeira de sua cidade.
Antigo Brasão da Cidade do Porto, com a
Virgem ao centro
Segundo a tradição, dom Munio e os franceses, após a difícil vitória
sobre os mouros, reergueram as muralhas da cidade e, em agradecimento às
bênçãos recebidas, construíram a chamada Porta de Vandoma, onde teria sido
colocada a referida imagem de Nossa Senhora, atualmente exposta na Sé do Porto.
A cidade recebeu, a partir de então, a designação de Civitas Virginis (Cidade
da Virgem) e consagrou Nossa Senhora de Vandoma como sua padroeira, devoção
que, até hoje, ilustra o brasão de armas do Porto.
Com a descoberta das Minas, muitos portugueses daquela região
para cá se dirigiram e trouxeram consigo a mesma devoção, que aqui se
implantou.
Além de Andrelândia, sabemos que Nossa Senhora do Porto é também
a padroeira da Capela do Saco, em Carrancas, e da cidade de Senhora do Porto,
Vale do Rio Doce, nas proximidades de Guanhães.
Matriz de Nossa Senhora do Porto - Andrelândia
Em Andrelândia, ao que tudo indica, a primeira imagem da
padroeira deveria ter pouco mais de trinta centímetros de altura, considerando
as dimensões do nicho colocado sobre a porta da igreja matriz, onde certamente a Santa era exposta nos dias de festa.
Nicho da Matriz de Andrelândia
Nicho da Fonte da Quinta de Aleveda, Portugal
Interessante notar que tal nicho, lavrado em pedra de cantaria,
é muito parecido com o nicho dedicado à mesma santa, situado na Fonte de Nossa Senhora de Vandoma, na Quinta de
Aleveda, em Penafiel, Portugal, o que pode ser uma dica de relevo para se
descobrir quem teria trazido a devoção e a antiga imagem para Andrelândia.
Fonte de Nossa Senhora do Porto da Quinta de Aleveda, Portugal
Detalhes da fonte indicam que ela pode ter servido, inclusive, de inspiração para a fachada
da Matriz andrelandense.
Há um documento de 1757 em que os moradores do Turvo pedem
autorização ao Bispo de Mariana para entronizarem uma nova imagem da Padroeira,
possivelmente a que hoje está no altar-mor da Igreja Matriz e é, ao que tudo
indica, de fabricação portuguesa, pois foi esculpida em pinus europeu.
A imagem da Padroeira, que hoje se encontra no altar-mor
da igreja matriz, tem as seguintes características físicas: representa a Virgem
Maria Mãe, alta e magra, com tez clara e feições européias, de pé, em posição
majestosa. Olhos direcionados para frente, num ponto não muito distante, com o
Menino Jesus sentado em seu braço esquerdo e voltado para frente, em
apresentação.
O Menino, com apenas alguns panos cobrindo-lhe do abdômen até os
joelhos, fixa o olhar num ponto mais próximo, abaixo, à direita. A Virgem veste
uma túnica longa, de cor creme, permitindo-lhe aparecer apenas as mãos e a
ponta dos pés descalços. Por cima, um manto espesso, que vai até o chão, em
azul-fino, cobre-lhe a cabeça por sobre um véu de tonalidade mais clara,
deixando parte dos cabelos à vista. Esse manto tem, além do azul, motivos
florais em ouro, espalhados em toda a sua extensão, e uma faixa larga, em cores
invertidas, fazendo o contorno de sua barra. O avesso é vermelho-salmão. Na
parte da frente, o manto foi suspenso com o braço esquerdo, para servir de colo
ao Menino Jesus. Com a mão direita, ela apoia o Filho, como para evitar que se
incline para frente. Analisando a projeção dinâmica da estátua, tem-se a clara
ideia de que a Virgem não está apenas mostrando o Filho, mas, oferecendo-O.
Ambos são ornados de coroa cupular prateada, encimada por uma cruz.
Coroação de Nossa Senhora do Porto
A imagem, que tem 1,30 m de altura, está apoiada em um pedestal
quadrangular de 40 cm de altura, trabalhado em estilo rococó, tambem de
madeira, na cor branca, com detalhes em ouro.
Em 1812 foi criada no Arraial do Turvo a Irmandade de Nossa
Senhora do Porto da Eterna Salvação, que passou a ser a responsável pela
manutenção da Matriz. O livro com o Compromisso da Irmandade ainda existe nos
arquivos paroquiais. Desde aquela época, o dia da padroeira é comemorado em 15
de agosto.
Passados mais de 260 anos da
chegada da devoção a Nossa Senhora do Porto à nossa cidade, a fé dos
andrelandenses na santíssima mãe de Cristo continua inabalável. Sob o olhar
doce e maternal de nossa padroeira se deram milhares de batizados, casamentos e
tristes despedidas.
Ela faz parte da nossa história e de nossa vida.
Que as suas bênçãos desçam sobre nós, nos
protegendo dos perigos e tentações e iluminando a trajetória de todos os
andrelandenses pelo caminho da justiça, do amor e da caridade.
Viva Nossa Senhora do Porto !!!