Nos
tempos de antanho, quando raros eram os profissionais da área da saúde e
precárias as técnicas de tratamento, a dor de dente era um dos maiores e mais
temidos tormentos da população brasileira.
Rufino Pereira Júnior no início de seus estudos de odontologia
Nas cidades do
interior, aqueles que experimentavam
problemas bucais, a exemplo de cáries, perda de dentes e afecções, em
geral tinham que recorrer a “curiosos” e “entendidos” que, em geral, receitavam
o uso de infusões de plantas medicinais, a ingestão de cachaça ou arrancavam o
“elemento problemático” com as próprias mãos ou se valendo de ferramentas
improvisadas, como turquesas de uso nas lidas da roça.
No início do
século XX a odontologia na região da cidade do Turvo, a nossa Andrelândia, era
ainda muito incipiente e poucos eram os profissionais que podiam aliviar o sofrimento dos que padeciam de dores de
dente.
Entre os
pioneiros que chegaram à cidade com tal missão está o Sr. Rufino Pereira
Júnior, que por cerca de três décadas dedicou-se, com esmero e desprendimento,
a aliviar o sofrimento principalmente dos mais pobres e desvalidos.
Nascido em 04
de abril de 1894 em Santo Antônio da Estrela (atual Estrela Dalva, na Zona da Mata Mineira), o nosso personagem era filho de
Rufino Pereira e de Maria Deolinda Pereira.
Tomou gosto pela odontologia
prática ainda jovem e já na casa dos vinte anos possuía equipamentos portáteis
e desmontáveis, com os quais prestava seus serviços de extração, restauração e
tratamento de dentes sobretudo nas fazendas e estações ferroviárias da região.
Foi em suas andanças como dentista prático que conheceu a cidade do Turvo, onde
passou a atender.
Após ter se
casado com a prima Maria da Glória Pereira, Rufino mudou-se para Andrelândia,
adquirindo uma casa na antiga “Avenida Minas Geraes”, atual Avenida Nossa Senhora do
Porto, em local hoje correspondente à casa da família do Sr. Sebastião de Sousa
(Sr. Tãozinho do Posto), onde nasceram os filhos Eny Pereira, João Batista
Pereira, Maria Deolinda Diniz e Marilena Lourenço Pereira.
O imóvel, que
contava com um alpendre lateral, também abrigava o gabinete dentário do Sr.
Rufino, onde boa parte da sociedade andrelandense tratava dos dentes. No
início, os equipamentos de perfuração, para fins de obturação, eram movidos a
correias de couro inseridas em polias tocadas a pedal. Era a tecnologia então
disponível.
Sr. Rufino e Dona Maria da Glória com os filhos Eny, João Batista, Maria Deolinda e Marilena, na casa situada na Avenida Nossa Senhora do Porto. Década de 1930
Na década de
1930, quando o Sr. Rufino formou-se oficialmente em odontologia pela
Universidade do Rio de Janeiro, da então capital federal ele trouxe um moderno
“Gabinete Electro-Dentário”, revolucionando os conceitos de tratamento
odontológico na cidade, com a estruturação do consultório de acordo com as mais
modernas tecnologias da época.
Foto de formatura de Rufino - 1936
Convite de Formatura
Mas para além
do profissionalismo e inovação, em nossas pesquisas descobrimos uma faceta do
caráter do Sr. Rufino que ficou perdida nas brumas das décadas já decorridas
desde que ele nos deixou, prematuramente, no ano de 1944: a caridade.
Rufino no interior do seu sofisticado Gabinete
Electro-Dentário
Naqueles
tempos em que a população rural andrelandense, sabidamente pobre, formava a
maior parte de nossos habitantes, muitos eram os que, sofrendo dores
torturantes em razão de abcessos e outros problemas bucais, partiam do Caconde, Congonhal, Dois Irmãos e outras localidades rurais em direção ao consultório do Sr. Rufino em
busca de tratamento e alívio.
A falta de
recursos financeiros do paciente nunca obstou o atendimento atencioso e
dedicado do nobre dentista, que tudo fazia para levar o alento e a cura a
todos os que demandavam seus préstimos. Velhos tempos de solidariedade e desprendimento...
Não raras vezes, demoradas extrações dentárias e complexas cirurgias realizadas gratuitamente em pessoas carentes eram posteriormente retribuídas, de forma espontânea e humilde, com galinhas, doces, frutas e ovos.
Não raras vezes, demoradas extrações dentárias e complexas cirurgias realizadas gratuitamente em pessoas carentes eram posteriormente retribuídas, de forma espontânea e humilde, com galinhas, doces, frutas e ovos.
A generosidade
e a retidão de caráter do Sr. Rufino Pereira Júnior foram transmitidas aos seus
descendentes, que, para nossa alegria, ainda hoje fazem parte da família
andrelandense. Mesmo os que atualmente residem fora nunca perderam o contato
com nossa cidade, à qual dedicam especial carinho.
Ao Sr. Rufino Pereira
Júnior, caridoso dentista da Terra de André, as nossas mais sinceras homenagens e o nosso
eterno muito obrigado !
Não conhecia o história do Sr. Rufino. Ótimo que você a tenha contado!
ResponderExcluirFiquei muito feliz em conhecer esta história!!
ResponderExcluirQue alegria ver a história de meu avô sendo resgatada! Sinto-me muito orgulhoso por descender desta figura que levava conforto e alívio para quem sofria. Um homem de ciência e prática. Obrigado aos responsáveis por esta pesquisa e publicação!
ResponderExcluirMuito interessante a história do Sr. Rufino, as duas famílias Pereira de Andrelândia contribuindo com bons dentistas para cidade, no caso da minha família com meu avô KiKa das décadas de 60 a 80 e de 2000 até atualmente com minha prima Andréa.
ResponderExcluirQuanta satisfação em ver este lindo trabalho do Dr. Marcos Paulo! Trabalho minucioso e paciente, semelhante à confecção de uma colcha de retalhos: devagar, aos poucos, dia a dia selecionando fotos e histórias bonitas de Andrelândia , hoje pudemos conhecer um pouco mais sobre a vida do nosso ilustre ancestral e sua cidade .
ResponderExcluirVô Rufino deixou para nós, seus descendentes e conterrâneos , um belo exemplo de honradez, caridade e competência.
Parabéns Dr. Marcos Paulo pelo excelente trabalho e obrigada por nós proporcionar esta alegria de saber um pouco mais sobre o nosso passado. Forte abraço !
Guardo somente algumas boas lembranças de meu pai Rufino pois, sendo a caçula de quatro filhos, ele foi embora deste mundo quando eu tinha apenas meus seis anos de idade. Lembro-me dele bonito, sensato, altivo e carinhoso conosco! Na minha lembrança, vejo-o tocando bandolim, conversando com compadres, vizinhos e trabalhando em seu gabinete. Cresci na minha Andrelandia, só escutando elogios de meu querido pai , a quem tantos amavam, pela sua solidariedade, companheirismo, caridade, sem deixar de ser enérgico quando precisava.
ResponderExcluirMarcos Paulo conseguiu retratar meu amado pai com perfeição! Sou muito grata a ele por nos incentivar a remexer nosso passado e fazer renascer aquele homem maravilhoso que partilhou sua tão breve vida conosco !
Parabéns pelo minucioso e lindo tributo ao Dr. Rufino Pereira Júnior, Rufininho como o chamava carinhosamente minha mãe, D.Maria da Glória !
Enfim, como nossas vidas são cheias de perdas mas, fatalmente aprendemos a superá-las, com a graça de DEUS, hoje estou aqui com satisfação, vendo as memórias de meu querido pai sendo retratadas de forma tão fiel e distinta ! Muita gratidão !!!!
Marilena Lourenço Pereira.
Meu avô Rufino Pereira juJuni, sinto_me emocionada para falar de sua pessoa! Embora não tenha conhecido, mas minha mãe, sua filha, meu pai e meu tio Batista seu filho, sempre lembravam do senhor e contavam sua vida... Foi um guerreiro... Passou por esta vida deixando rastros de bondade, caridade e muitas luzes, exemplos de um grande homem, que só procurou fazer o bem ao povo Andrelandense. Empregava os necessitados em sua linda " Granja Tiradentes", onde ia pela linha de trem afora, sentido Arantina, poucos kms. daqui de Andrelândia, onde havia suas plantações e suas cabeças de gado de leite, que serviam, para sua família e também, para seus empregados, os quais cuidava de seus dentes e de suas famílias, que sofriam terríveis dores de dentes. Sempre alegre, feliz, amava Andrelândia! Reunia com seus amigos e tocava seu bandolim, nas tardes de verão. Tudo era alegria. Trabalhava mais em prol aos necessitados. Fazia cirurgias bucal a quem tinha câncer de boca, a pedido do médico local da época, era bem sucedido. Pagavam os que podiam, também os que vinham de fora tratar de seus dentes. Mais mrsme eram caridades. Vovo também contava, a cadeia era vizinha da casa do meu avô, então, quando ele viajava para fazer cursos no Rio de Janeiro, deixava com ela medicamentos para curar os dentes dos presos que estivessem gritando de dor de dente, assim minha vó fazia, em companhia dos soldados, porque presos naquela época, eram ladrões de galinha, verduras, porcos... Meu avô, não construi riquezas, mas construiu MUITO AMOR. Partiu cedo, câncer estômago, deixando filho pequenos, e, um vazio sem fim... Tudo escureceu!!! Tudo acabou!!!Seu legado ficou para sempre como exemplo e jamais será apagado de nossas vidas meu amado AVÔ! A minha SAUDADE, o meu agradecimento por ser meu avô com muita honra! Que DEUS de bondade o carregue nos braços, na Eterna Morada, onde vamos nos encontrar um dia e, assim, creio eu, que poderei dizer o quanto te AMO. Ate um dia, se assim Deus permitir, meu eterno e amado vovô Rufino Pereira.
ResponderExcluirAo Dr Marcos Paulo, minha gratidão, pelos seu encantador trabalho_ Tributo de GRATIDÃO ao Caridoso Dentista Rufino Pereira Junior_ TERRA DE ANDRÉ_. Pelos seus esforços, na busca de de documentários e informações. Que bom Deus te abençoe sempre! E grande Sucesso! Muito obrigada! Elizabeth Pereira Abrahão.