No vizinho município
de Santana do Garambéu, no Campo das Vertentes de Minas Gerais, a
aproximadamente 8 km da cidade, na
divisa com o município de Santa Rita de Ibitipoca, existe uma imponente
cachoeira com poços profundos e três lindas quedas formadas no Ribeirão da
Bandeira, afluente do Rio Grande.
A beleza da
cachoeira, entretanto, contrasta com o nome fúnebre que lhe foi atribuído:
Cachoeira dos Defuntos.
Segundo a
tradição oral, ainda no século XIX, a Fazenda Pinheirinho, onde a cachoeira estava situada, era de propriedade
de um homem de sobrenome D’Ávila, que ali mantinha um rancho de tropeiros com
acomodações para os viajantes que transitavam pela região, sobretudo fazendo
negócios envolvendo bois e porcos para abastecer o Rio de Janeiro.
O movimento
das tropas era intenso e o pagamento feito pelos tropeiros, conquanto módico, representava
um ganho razoável para o estalajadeiro.
Contudo, D’Ávila
era homem ambicioso e logo percebeu que poderia ganhar mais dinheiro se
subtraísse os pertences de seus hóspedes quando passavam com altas somas nas
canastras, subindo em direção às fazendas de gado, para fazerem seus negócios.
A partir de
então, ele passou a selecionar os tropeiros mais abastados para aplicar o seu terrível
plano. Quando descobria a presença de comerciantes com altas somas em seu rancho,
D’Ávila tratava com especial atenção a comitiva, inclusive franqueando cachaça
gratuitamente a todos os integrantes, que se divertiam em volta da fogueira, tocando viola e contando casos descontraidamente.
Durante a
madrugada, quando todos dormiam, D’Ávila e seus sequazes, ávidos pelo ouro e
pelas moedas trazidas pelos viajantes, tiravam a vida dos hóspedes tropeiros
com extrema rapidez e violência. Os corpos ensanguentados das vítimas eram em
seguida amarrados em pedras e jogados no poço mais profundo da cachoeira fronteira
ao rancho, desaparecendo sob as águas do ribeirão.
Não se sabe
exatamente quantas foram as vítimas do estalajadeiro assassino, mas fato é que
ainda hoje existem pessoas que afirmam terem presenciado ossos humanos nas
várzeas adjacentes ao Ribeirão da Bandeira após enchentes.
Conta-se
que, certa feita, houve uma grande seca na região e um enorme
número de ossos ficaram à mostra no areal da cachoeira. Uma senhora viúva, dona de uma fazenda na região
do Morro do Chapéu, teria mandado que seus escravos recolhessem os ossos das
infortunadas vítimas de D’Ávila, sendo os mesmos acondicionados em sacos de
couro e levados, em um carro de boi, para sepultura no adro da Capela de Santana do Garambéu.
No
ano de 1949, quando trabalhava fazendo decorações no interior de fazendas da
região, o pintor alemão Walter Kessler sensibilizou-se com a triste história
dos tropeiros assassinados.
Em um dia de folga, o pintor que morava em Andrelândia, pegou seus materiais de
trabalho, enfurnou-se em uma gruta existente no sopé da cachoeira e no seu teto pintou
uma Nossa Senhora. Aos pés da divina mãe de Cristo, Walter fez uma súplica em
favor das vítimas cujos corpos ali haviam sido jogados tempos atrás, deixando escrito: VELAE
POR ESTES.
Passados setenta anos, a pintura ainda existe.
Um testemunho da triste história daqueles que sucumbiram
na Cachoeira dos Defuntos.
Caro Eureste, parabéns pela iniciativa de pesquisar e divulgar a Cachoeira dos Defuntos.
ResponderExcluirAs histórias que cercam este lugar são incríveis. Estive lá há uns 20 anos e ouvi basicamente as mesmas descrições, com pequenas diferenças. Por exemplo, que os corpos das vítimas eram jogados em um sumidouro que existe na parte de cima da cachoeira, e após algum tempo os ossos apareciam no lago na parte inferior. Os corpos dos escravos do cruel proprietário das terras também receberiam o mesmo destino, segundo a versão que ouvi: eram descartados no sumidouro, sumariamente.
A retirada dos ossos teria ocorrido nos anos 1930, "enchendo um carro de boi" que os levou até seu local de descanso final.
Quando estive lá havia ainda um cruzeiro em ruínas na parte alta da cachoeira, homenageando as vítimas.
Os fatos narrados são realmente impressionantes. Devemos buscar, inclusive, possíveis fontes documentais sobre o caso. Há notícia de que o D'Ávila teria sido descoberto e preso. Seria mais uma história fantástica das Minas Gerais. Sigamos em frente. A verdade há de aparecer. Tudo tem o seu tempo.
ExcluirSenhor Eureste, estive no local algumas vezes. Conheço a história da forma contada pelo senhor Gilberto. O sumidouro fica pouco antes da queda d'água, e a cruz ainda existe no local também. Todos os anos, moradores se reúnem lá
Excluir(salvo engano, em junho), para a celebração de uma missa em memória dos mortos naquele lugar.
Muito interessante. O primeiro serial killer da região.
ResponderExcluirRealmente todos estes relatos tem um fundo de verdade.
ResponderExcluirAconteceu também no mandato de prefeito do Jorge Bolgrates no ano de 2000 ele fez o sepultamento dos ossos ali encontrado no cemitério da sua cidade Santana do Garambeu.
Conta também quem descobriu toda essa trapaça foi um padre.
Vc sabe mais sobre este sepultamento em 2000? Eu estive lá antes disso e já havia a história de os ossos terem sido removidos de lá e levados para o cemitério.
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